quarta-feira, janeiro 26, 2005

Imagens Reais !

Estranho, quando nos deparamos com imagens e vemos retratada a nossa existência. Pela primeira vez, senti revelada uma vida similar e muito própria em toda a sua plenitude. Pelos factos, em tudo coerente, digna e sincera do meu ser. Muitas vezes, encarnei o espírito de outros e de muitos 'alguéns' que gostaria de ser, mas não desta vez!
Despi o papel de herói que muitas vezes imaginei, tirei o fato de homem corajoso, bravo e aventureiro que gostaria de alcançar... Sempre manifestei a necessidade de entrar no universo das coisas, ir além do que apenas me era visível e palpável, e sentir tudo aquilo que se espelhava bem para lá do meu simples campo visual. Puras imagens, monótonas, agitadas, em repouso ou movimento, traduzem algo bem mais forte e único do que apenas aquilo que se descortina a olho nú. Talvez deste modo, os meus sentidos tenham sido levados ao extremo e me tenham sempre feito sentir como se fizesse parte daqueles enredos, daquelas estórias, daquela arte...
Contudo, o que dizer quando acontece o inverso e vemos que existe uma cópia fiel do que somos? Parece que o conjunto de actores que representam uma peça, que o conjunto de artistas que criam telas, figuras ou meras imagens o fazem em nossa honra, nos invadem a privacidade ou nos usam para seus modelos e inspiração. Quando bem desempenhados, não conseguimos entrar no espirito da arte e apenas nos deixamos fluir e sentir que tudo é um retrato fiel do que vivemos. Pomos de parte a tal vontade de sermos aquilo que vemos diante de nós e agradecemos por não conseguirmos nada mais, do que o orgulho de sermos como somos. Nunca na vida me senti tão agraciado por me fazer entender e embora saiba que tudo o que foi feito jamais terá sido a pensar em mim, a feliz coincidência de ter acontecido, faz-me sentir feliz, muito realizado e preenchido.Talvez seja um grandioso exemplo da minha personalidade e uma forma extremamente directa de apontar como sendo o que sou...

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Insónias!

O que te apraz dizer quando não adormeces?
Talvez um universo imenso de questões, de dúvidas, incertezas ou mesmo um atribuir de algo que não é de todo decifrável.Talvez seja apenas algo físico, um ruido imenso vindo do exterior ou uma espécie de poluição vibroacústica, que nem se sente ou compreende. Contudo, acho que chega a ultrapassar uma razão lógica e é-lhe atribuído um carácter bem mais ausente e real da complexidade humana.Parece-me estar a atravessar um desses momentos e a cada novo minuto que vai passando, acresce-me a preocupação de serem sessenta novos e valiosos segundos que desperdiço na minha noite e que subjacente a isso, perco umas quantas células nervosas essenciais ao meu equilibrio diário. Levanto-me do meu leito quente por não conseguir aguentar nem mais uma fracção de tempo deitado. Distraio-me com tarefas normais que faria em qualquer tempo livre que teria. Pego num livro e apesar da falta de sono, o cansaço impede-me de atingir uma concentração completa sobre o tema que escolhi para me debruçar e entreter. Largo imediatamente o conjunto de folhas que havia pegado e coloco-me de novo num outro patamar. Vejo as páginas on-line dos diversos jornais diários que irão sair á rua dentro de poucas horas. Também isso me faz perder um pouco o encanto, pois sem dúvida que a agradabilidade de ler as manchetes pela manhã num qualquer quiosque, me faria sem duvida despertar outro interesse. Ligo a televisão e embora me mantenha entretido enquanto as teclas do meu ruidoso telecomando, me permitem fazer um zapping acelerado, não vejo nada de particularmente chamativo. Talvez sintonizando uma qualquer estação de rádio, me ajude. Faço-o com satisfação e perante um daqueles sons, daquelas músicas dos meus tempos de criança, recordo com interesse e com a lembrança de momentos anteriormente passados. Sinto-me longe daqui... Imagino-me onde estaria quando ouvia aquelas vozes, em que situações me deparava e que sentimento me faria sentir naquela altura. Perante algumas canções, senti algum saudosismo doentio e fases menos boas. Optei por desligar. E agora ? Que vou eu fazer ? Tomar um anti-depressivo, um sedativo, um ansiolítico , ou regresso ao meu leito, mantendo-me imóvel e estático até que o meu cérebro encontre a paz necessária para descansar ? Não sei, mas até o facto de não ter sono, me deixa stressado. Se fosse criança, seria fácil pegar no meu boneco de peluche, ir para junto dos meus pais dizendo que estava com medo, ou arranjando uma qualquer desculpa para o meu mal.
Sento-me na cadeira do meu quarto. Confortavelmente, encosto-me e deixo-me ficar com a cabeça para trás. Fecho os olhos e tento um descanso artificial desta forma. Ainda assim, milhentas acções deambulam pela minha mente. A preocupação dos dias que virão, tudo aquilo que lhes vem anexado, os aborrecimentos dos dias anteriores e que por mais que tente não se apagam de ânimo leve. Talvez pense demais, mas num estado de fraqueza psicológica, tudo me é permitido. Talvez não enfrente a pressão com a força devida e embora durante o dia nada me afecte, é nas altas horas da noite que me sinto frágil e impotente para derrubar um conjunto de factores adjacentes á minha vida.
Acho que se alguém se lembrasse de telefonar a esta hora ou me mandasse uma mensagem de incentivo, ficaria eternamente grato. Qualquer ser humano normal, reagiria de outra forma, mas comigo não. Digam qualquer coisa, por favor ! Não só deixaria de ficar feito parvo dormindo em pé numa cadeira, como também teria um excelente motivo para me manter bem vivo.
É doentio estar aqui! Lá fora vejo uma, duas, três janelas no máximo, acesas, mas de certeza com pessoas a poderem alegar motivos diferentes dos meus.Tudo me ocorre nestes instantes. Falta de apoio, alguns excessos de uma vida por vezes regrada em demasia, demasiada pressão sobre os ombros, vontades de uma sociedade em nos transformar em algo que não somos nem nunca seremos capazes de ser. Enfim... Parece que aqui também não adianto muito e se tudo isto me modifica e me estraga o metabolismo, talvez seja melhor mendigar e deixar tudo ás avessas. Neste momento é o que me dá vontade, mas sei que amanhã tudo o que digo deixarão de ser apenas palavras ou promessas e tudo retomará o caminho natural. Nada disto é escolhido ou premeditado, mas o poder de decisão nem sempre é válido ou correcto. Se a alguém contar esta minha aventura ou epopeia nocturna, levarei com um "vai dormir, que o teu mal é sono" e isso apesar de me fazer esboçar um largo sorriso e me fazer sentir ou achar ridículo, sei que não é de todo correcto. Apenas, são momentos em que por mais voltas que dê, não consigo dormir.
Fases naturais de uma insónia normal nos dias que correm... Amanhã estarei melhor !