sábado, dezembro 17, 2005

Coração de pedra !

Tantas vezes passas ao meu lado e sem me ver, te deixas amparar noutros braços. Tento fingir que não vejo, porém sigo como um tolo enciumado e apaixonado. Quem me dera estar contigo e ser o outro, tendo-te nestes braços, que te amam e loucamente te desejam, por um pouco. No fundo, o desprezo é tanto, que a dor se sobrepõe ao sentimento e a vontade de te abraçar, faz-me ter por ti o maior desejo que algum dia senti. És simplesmente o que mais quero neste mundo!
Será que sentimos verdadeiramente, ou sabemos o que acontece, quando alguém que amamos nos esquece? Aos poucos, eu me acabo, vou morrendo, terminando este sentimento, sentindo que o teu longínquo amor, me transformou num coração de pedra, gélido e sem capacidade de amar! Olha para mim, uma vez que seja, antes que me vá sem conseguir sorrir...

terça-feira, novembro 29, 2005


Lamento !

De tanto correr pela vida sem qualquer freio, esqueci-me que a vida, se vive num momento. Omiti detalhes que julgava serem insignificantes, pela enorme vontade e sede de querer ser em tudo primeiro. Brinquei com os sentimentos, vivendo da loucura envolta pelas ilusões. Gritei pensamentos ao acaso e ao vento, deixando de ser o que sou, vivendo agora sem sentir. Canto ao amor chorando pelos sonhos, sentindo-me sem coração, energia ou razão objectiva para prosseguir. Lamento continuamente ter brincado com o que mais queria, desperdiçando e perdendo sem me aperceber tudo aquilo que outrora foi meu e sem esforço atingi. De tanto jogar com a verdade e a mentira, enganei-me sem saber que era eu quem perdia, fracassava e a ruína perseguia. Roubei tempo ao tempo, querendo ganhar dias e noites em sonhos, apenas por querer descobrir a cada dia algo novo. Muito esperei e em que por nada oferecer, hoje fico a chorar, recordando o tempo em que levianamente sorria !

quarta-feira, novembro 23, 2005


Mantendo-me vivo !

Como uma tempestade de trovões cuja dissolução de aproxima rapidamente sem aguentar qualquer outro revés, jamais me será possível vacilar ou ajoelhar diante de um outro cenário destrutivo... Rastejar como serpente doentia, assemelha-se a um contexto puramente insano e nele apenas me permitirei localizar num estado demente e corrosivo.
Mantenho-me vivo, velho, vulgar, gasto e cansado, embora suficientemente hábil e ciente para pisar o meu próprio chão sem no entanto haver algo para revivificar.
Tento lavar e extinguir todas as imundas e hediondas mentiras que me lavraram a vida, a decompuseram e abandonaram o meu crépito viver, á mercê de seres necrófagos que me trairam e deixaram extraviado o meu percurso. Parti para distante, num tempo obscuro e embora ainda os consiga sentir respirar, jamais conseguirão o melhor de mim...

quarta-feira, novembro 16, 2005


Exausto !

Talvez seja esse místico homem, de duas cabeças que se espetam pelo tronco e vivem aprisionadas num só corpo... Uma olhando para trás, a outra para baixo e em nenhuma delas se consegue decifrar e compreender.
Quiçá seja também, esse abominável e legendário ser de quatro mãos, que toca, que cura, estrangula e possuí, não conseguindo em nenhuma das suas acções, realizar qualquer tipo de prática que o satisfaça...
Sinto-me exausto, por estar num lugar onde nunca estive e por voltar de um lugar que nunca senti. Esqueço-me de quem sou, cansado de o ser... Esqueço-me do que sou, embora cansado para me deixar. Sinto-me um homem de duas palavras, que deseja saber quem é, que se perdoa sobre o que é... mas insiste !

quinta-feira, outubro 27, 2005


Gerações de vaidade!

Irrita-me constantemente esta geração de teenagers dos anos 2000.
Não será certamente por uma questão de inveja ou de mau estar perante as idades ou os novos tempos, mas pelas atitudes rascas de uma geração que um dia mais tarde tomará conta dos nossos destinos. Julgam-se uma espécie de aristocratas, de pensadores do mundo actual, de donos da razão, da sabedoria, da inteligência, da educação e apesar de ser neste mundo que vivem e fazem parte, continuam a olhar em demasia para a sua sombra e umbigo, mantendo sempre a secreta esperança que sejam olhados como seres superiores.
Fazem-no com a vaidade, no acesso a modas, no consumismo exacerbado e julgam justificar desta forma, o mérito que os alimenta e tanto os envaidece. Atitudes de humanismo, de educação, de boa vontade, de boa fé e de princípios, não os descreve e sinto-me pobre perante uma geração que cresce à minha volta e apenas amadurece com o acesso a meios artificiais.
É curioso, reparar que estes novos homens e mulheres, "partem" para a vida relativamente cedo. Começam uma vida sexual precoce, julgando descobrir o amor, procuram alguém para com uma presunção ridícula, mostrarem que andam e não namoram e enfeitam-se de mil e um ornamentos ou objectos, por acharem que é ser mais crescido. O que dizer, quando se vêem autênticas crianças, com decotes generosos, com piercings, penteados, com certos tiques e postura de etiquetas, com roupas de gente grande ou com vestuário muitas vezes descabido à sua interior maneira de ser? Apenas querem ser grandes!
Aposto que por detrás de tudo isto, não passam de meninos parvinhos, que não são capazes de lamber as próprias feridas quando caem, que não conseguem ser suficientemente homens ou mulheres sem o equilíbrio de pessoas mais velhas, sendo o mais repugnante de tudo isto, a forma grosseira e altiva com que por vezes troçam e reparam nos idosos, nas pessoas da província, e em tantas outras gentes que entendem ou julgam, serem seres inferiores. Não direi que os progenitores sejam os principais culpados, mas também encontro paralelismo na sociedade que nos sufoca, na televisão, nas figuras mais ou menos públicas, na escola, etc... Geralmente, tomam certos "artistas" como modelos a seguir, pelo que vestem, pelo que cantam e pelo estilo que os compõe, parecendo serem apenas estas, as melhores características para qualquer ser humano. Não me sinto com vontade nem sequer com moralidade alguma, para entrar em comparações com os miúdos dos anos 70, 80 ou 90. A época é outra, os tempos também e a vida que aqui veio desembocar, é de igual modo totalmente diferente. Entendo tudo isto de uma forma perfeitamente normal, mas causa-me antipatia e repugna-me apenas, observar uma juventude de fachada, de vaidade desmedida e doentia, contrastando com muita fraqueza, debilidade e pobreza a nível espiritual e intelectual.
Sinto um carinho muito especial pelos jovens e pelas crianças, mas começa a ser desesperante este mesmo contraste entre os sinais de riqueza e de beleza exterior, com a total abstinência de valores, de códigos de conduta e de personalidades definidas. Acaba por ser uma critica construtiva, bastante pessoal e obviamente generalizando muito, mas cada vez mais encontro exemplos dos que citei, mantendo-me sempre na esperança e com um orgulho desmedido, de encontrar miúdos a contrariarem tudo aquilo que referi. Esses sim, serão grandes !

quarta-feira, outubro 26, 2005



Marcos !

Atingi recentemente a simpática marca dos 50 posts. Não é de todo, um alcance notável, raro ou extraordinário. Muitos dos que se dedicam á escrita, conseguem-no talvez ao fim de um mês ou quiçá em poucos dias, mas talvez se limitem a transcrever factos, a lançarem debates e a comentarem acontecimentos do nosso quotidiano. Muitos desses locais onde se discutem ideias e formas de estar, são soberbos, fantásticos e com acções exploradas ao mais ínfimo pormenor. A muitos deles, presto a minha homenagem e sincero sentido de gratidão, pela forma como despertam o meu interesse ou tocam os meus sentidos. Contudo, neste meu ano e meio de expressão escrita, a minha forma de manifestação, foi sempre diferente. Ousei jogar com os sentimentos, beliscar a mente, ir para lá do visível e explorar tudo aquilo que se encontra na génese humana, muito comum a todos, mas um pouco camuflada. Não o fiz de uma forma leviana ou irreflectida. Muitas vezes, talvez tenha relatado certas situações numa perspectiva muito pessoal e menos abrangente, mas ainda assim, fiz sempre questão de salientar e destacar pontos comuns a qualquer um de nós. Foquei sensações, vivências e formas físicas... Usei termos duros, frios, directos e transparentes, contrastando por vezes, com alguma doçura, suavidade e boas doses de loucura, cujos princípios fazem parte da minha distinta forma de ser. Estimulei a mente, procurando sempre deixar entreaberta a imaginação a critérios disformes...
Jamais tentei que a minha humilde e modesta presença neste local, se tornasse num modelo a seguir. Apenas induzi, que a mesma fosse assimilada por quem consumisse estas linhas e fizesse deste meio, uma forma de meditação, de comparação e de elevação espiritual. Em cada letra, cada palavra e cada frase, existem muito mais do que simples ideias ou conceitos. Nos meus momentos de inspiração, (em todos eles e sem excepção) deparei-me com intensos fluxos de sentimento, de emoção, paixão, entusiasmo e disposição afectiva, tendo vestido muitas vezes um papel de actor, para relatar na perfeição, cada parágrafo com a maior intensidade que me fosse possível viver.
Talvez o fizesse devido à experiência de vida, mas sem dúvida que muito devo ao facto de me manter sempre atento, à vontade de me conhecer e compreender, ao desejo de explorar cada vez mais o comportamento humano e com ele, enriquecer e crescer o máximo possível.
Pela forma como fiz e não deixando apenas de ser um despretensioso ser humano, achei apreciável a cifra dos meus 50 momentos de prazer único, sincero e de muito deleite.
A todos os que me absorvem, espero poder presenteá-los, com mais meias centenas de ideias e conceitos ao longo do tempo... Bem-hajam !

Ventos !

Na escuridão, no medo e nas trevas do silêncio, bem próximo do sono profundo, vivo e alimento um sonho. Invoco-o, alimento-lhe a alma e contorno-lhe o espírito, da mesma forma que os veleiros rasgam as águas e dominam os ventos. Pareço ouvir o cantar de anjos neste sigiloso descanso. Repouso num lugar bem para lá do Sol, através de um céu límpido de ruidos e impurezas, encontrando apenas um pequeno caminho luminoso por entre uma escuridão funesta e hedionda.
O meu sonho, assemelha-se a um sussurro, a uma luz de vela ou a um pequeno feixe brilhante que apesar de insignificante, liberta um fluxo tão radiante e intenso que me permite expandir, alcançar e ser observado sem que me dê conta disso. Olho no seu interior, vejo os tumultuosos e desordeiros ventos que o alimentam e sem me deter, acredito cegamente que serão ventos de fortuna, de mudança e de orientação. Deixo-me levar, voar e levitar para bem longe...
Elevo-me para lá de um arco-iris de cores reduzidas e direccionadas, procurando apenas a cor cintilante do ouro a que me proponho obter. É lá, que encontro o início de uma estrada, onde qualquer outro iria terminar, para relançar a minha essência e dar continuidade a algo que não consigo aceitar como um fim prematuro. Contudo, é também aí que os ventos se confudem, misturam e colidem, fazendo com que me arraste, não consiga curvar nem ter força suficiente para manter a minha linha recta de um modo firme e imutável.
Aguardo por estrelas cadentes, por novos objectivos para acumular e iluminarem o meu caminho. Deixo que a minha vida se escreva neste tornado, em nuvens acima e nuvens abaixo, deixando o vento ocupar o meu céu e poder empurrar toda esta nebulosidade que tanto me prejudica. Quando assim acontecer, terei o caminho desbravado, solto e livre para caminhar de encontro aos meus sonhos, tendo a certeza que dias de tumulto ou demasiado radiosos, não resistem nem se fixam eternamente.
Cerro ainda mais os olhos, novamente em busca das minhas aspirações e sentimentos, sentindo apenas a leve brisa dos meus ventos utópicos e de desvario. Imagino, acredito e alcanço, não só por mim ou pela vontade própria de me controlar, mas porque as direcções a que sou muitas vezes vetado, induzido e pressionado, também me incapacitam e precipitam decisões. Sonhemos e deixemos que os ventos, por nós decidam...

domingo, outubro 16, 2005

Desprezo !

Será que nunca te cansas de te dares em demasia? De seres sempre tu, a tomar a iniciativa das coisas, não apenas para teu proveito, mas principalmente porque pensas também nos outros?
Por vezes, dá-me a sensação de ser quase impossível arrancar um simples sorriso de satisfação ou bem-estar, de alguém que se sentiu preenchido por nós. Os agradecimentos são momentâneos e limitam-se a pouco mais do que um obrigado instantâneo, devido a um silêncio monótono que se poderia instalar. Torna-se extenuante e desmotivador, quando nos colocamos no fio da navalha, deixamos de parte tarefas e funções pré-concebidas da nossa própria realidade e vamos ao encontro e em auxílio de quem por nós invoca.
Talvez o façamos por princípios, educação ou forma de estar na vida perante os outros, mas ganha muito sentido e cada vez mais terreno em nós, uma vontade fria e gélida de deixar tudo ao acaso e fazer com que cada um se vire por si. Outras situções nos se deparam, quando urge a necessidade de nos mostrarmos, de aparecermos e de nos tornarmos visíveis.
Vociferamos com intensidade, erguemos a sombra e destapamos o olhar com o intuito de manifestarmos a presença, de dizermos que estamos vivos, em bem e que queremos que a nossa preocupação perante os demais, seja sentida como uma forma de acompanhamento. Torna-se enfadonho, monótono e fatigante, quando perante o nossa assiduidade, apenas temos de volta o nosso eco e não sentimos um sinal do nosso receptor. É desmotivador, quando sentimos que além de não sermos lembrados, parece existir a sensação de total esquecimento e de sermos sempre nós a tomarmos a iniciativa e o começo de um cumprimento. Cansa, quando o fazemos repetidamente e sem resposta... magoa, quando o tempo aumenta e com ele, ninguém nos acena.
Apetece-me parar ! Deixar de cumprimentar, de falar, de conviver, de saber quem se encontra bem e aguardar por quem realmente está comigo, voltando a escolher todos aqueles, de uma forma crua, selectiva e insensível. Que se lixem todos! O importante... sou mesmo eu !

sexta-feira, outubro 14, 2005

Auto-censura !

Abandonado pelo tempo, com um fraco impeto de revolta, deixo que o remorso me vença.
Deixo-me balançar na extremidade do precipício, onde um coração vazio, ressequido de alma e princípios, se estaciona no abismo. A vida racional, consome-me e tira proveito deste carácter necrófago. Parece-me o inferno, onde Judas é a noite desta decadência que me habita. Eterno inferno, como as chamas de uma chuva ácida, num pecado que não concebi deliberadamente. Para sempre viverá em mim, anexado com a dor e o sofrimento que me crava e esculpe a consciência, a culpa e o nojo neste corpo que me compõe.
O choro compulsivo, a mágoa constante e o peso interior, acentuam-se e nem o tempo parece fazer esquecer. Descanso acordado, perguntando-me continuamente sobre a intenção dos meus gestos e acções, que como um qualquer larápio, me levaram o milagre da vida. Voltar atrás no tempo, remediaria. Fazê-lo em consciência, remendaria!
Nada poderei fazer. Perseguir-me-á eternamente até á morte... para sempre !

quinta-feira, outubro 13, 2005

A lei do amor...

É a ti que te amo, na mais bela aura da vida...
De que me vale percorrer as formas, a intensidade e o realismo do amor, se nem consigo quantificar o valor do tributo que lhe presto? Por ele te encontrei, te toquei e senti de uma forma tão pura quanto sincera. Derrubá-lo, é agigantar-me peranto algo que não me atrevo a fazer... Erguê-lo, é ver-me na pequenez de um todo, dificilmente atingível na sua completa plenitude.
Talvez me encontre numa forma de respeito, de temor ou receio. Talvez encontre uma certa estupefacção, a cada novo caminho que escolha. Nele me meto, inicio e termino contigo, sem que me encontre abandonado ou esquecido. Ardendo como fogo, ao longo da minha singela existência, a luz ténue mas constante e o calor exasperante, prova-me o que sinto. Torna-se evidente, responde-me e afirma-me, o acto de viver. A confusão habita, o consolo impera, mas a razão do meu sentimento, leva-me a admitir o porquê da conduta do meu amor.
A entrega, a dádiva e a partilha, admitem-se pelo coração... O beijo doce, vinca-se com solidez e sente-se demasiadamente intenso, para ser cínico ou superficial. Respondendo-te com altruísmo, apenas digo que... amo-te simplesmente, porque simplesmente te amo !

quinta-feira, outubro 06, 2005

Ser ou parecer ?

Sou o que pareço, mas para mim sou o que sou.
Não seria bom se todos pudessemos viver num mundo em que as máscaras sociais não tivessem razão de ser? Meditai e transcrevei...

domingo, outubro 02, 2005

Humor...es!

Em muitas circunstâncias, damos por nós envolvidos em situações de imensa graça e cheias de humor. Muitas delas surgem espontaneamente, outras são preparadas com o propósito e o intuito de nos fazerem rir. Contudo, as melhores de todas, serão certamente aquelas cuja inocência ou de alguma forma ignorância, nos deixam abismados e atónitos, com a tamanha barbaridade do que foi praticado. Acontecem situações, de verdadeira loucura saudável e por vezes, chega a ser lamentável a forma como nos servimos dos outros, para cobaias da nossa chacota ou gozação. Temos certamente, inúmeros casos de episódios engraçados e caricatos para relatar. Aliás, durante toda a nossa vida, recordamos alguns deles com um sorriso especial, quer pelas recordações ou pelo estado de espírito bem disposto, que isso nos proporcionou. Recordo muitas estórias com um gostinho especial e cada vez que me debruço sobre elas, penso no momento de mau estar que isso tenha causado a quem as protagonizou.
O que dizer quando alguém afirma inocentemente que o escroto (saco cutâneo que alberga os testículos), fica em Lisboa, julgando ser um qualquer lugar, de qualquer bairro? Ou o que pensar quando ainda existem pessoas que acham que a Internet, se encontra fechada a partir das 22h e apenas funciona nos dias úteis? Para já não falar dos casos gritantes de utentes anónimos da Via Verde, que não compreendem o porquê de ser necessário substituir a pilha do aparelho, pois juram a pés juntos, terem acabado de colocar uma bateria nova no seu veículo!
Isto é apenas uma milésima parte, de casos "inocentes" que testemunhei, e com eles, veio o espanto, a incredulidade e ainda a dúvida sobre quem estará a gozar com quem. Muitas vezes usamos figuras, personagens e caricaturas como objecto de sátira, ironia ou troça e adaptamos-lhes estes factos reais. Usamos as loiras, os negros, os ciganos e tantos outros figurantes de uma forma cruel e mesquinha, para conseguirmos reproduzir o que na realidade parece ser irreal e nada demonstrativo de um ser humano, dito normal. Entra aqui também um pouco da experiência, das vivências, da maturidade, do desenvolvimento social e da cultura geral. O que será conhecimento para uns, não será certamente para outros, visto ser este ponto demasiado vasto e daí, ser-se fácil troçar com quem não sabe o que sabemos e vice-versa. Ainda assim tenhamos a liberdade de reflectir, pensar e meditar que há limites para tudo. Haja no entanto, bom senso para abranger e tentar compreender o porquê de certas afirmações ou atitudes que julgamos serem absolutas aberrações e englobá-las no contexto adequado, para que todos tirem o respectivo proveito, sem ninguém sair demasiadamente prejudicado!
Talvez até eu, seja motivo de chacota pelo muito pouco, que julgo saber...

sexta-feira, setembro 30, 2005

Caixas !

Que absurdo e estranho é este mundo que habitamos...
Sem ligarmos aos outros seres que coabitam connosco, paremos um pouco para pensar nos utensílios, objectos e construções que nos servem de auxílio e suporte para uma vida supostamente melhor. Basta por exemplo, olharmos para o lugar que nos serve de abrigo, nos aconchega e conforta e ao qual chamamos, casa, lar, ninho, ou o que quer que seja. Apesar de ser nele que nos sentimos com total privacidade e bem-estar, não passa de um amontoado de pequenas divisões, compartimentos e separadores labirínticos. No fundo, o que tento tentado entender, é que toda a nossa vida é feita dentro de caixas, de pacotes e de moldes mais ou menos antagónicos e em nada defensores do ar livre e "espaço aberto", que os seres vivos tanto necessitam para se expandirem e libertarem. Até nos momentos de suposto divertimento e lazer, nos remetemos a esta espécie de arrumação mórbida de clausura e recolhimento.
Dentro do meu apartamento, encontro-me cercado por paredes, por um tecto que me sufoca e esmaga de encontro ao chão e de uma minuscula área de suposta liberdade, que ainda assim me limita o ar que respira e o infinito a que me permito alcançar. É nesta espécie de formigueiro que habito, com vizinhos, com amigos e até familiares... Todos juntos, todos prisioneiros de um material que nos protege e esmaga pela dureza das suas formas.
Bem cedo, liberto-me da minha caixa-mor, entrando numa outra que me permite mover e circular de encontro a tantos outros locais cujo destino me proponha a alcançar. Talvez seja esta mais agradável, porque me movo, porque posso ver e respirar de uma outra forma, ouvir algo mais e estar mais atento, mas ainda assim me encontro novamente cercado de materiais que me blindam a passagem para o exterior. Mais uma vez, parto ao encontro de mais um depósito fechado, seja para trabalhar, fazer compras ou até mesmo um lugar de diversão. Esteja onde estiver, parece que a necessidade de estarmos encerrados em compartimentos exíguos se acentua cada vez mais e de uma forma severa, tal e qual quando se pune uma criança e se a manda para o quarto. Não estaremos também nós mesmos, fechados num quarto, de castigo e pagando pela imoralidade dos tempos modernos? A única forma de libertação, surge quando procuro um contacto directo com a natureza. Aí, expando-me. Liberto-me de uma prisão ofegante e permito-me erguer os braços, correr e gozar de uma liberdade raramente conseguida neste mundo artificial. Que malditas caixas haveriam de ser construídas para nos colocarem...
Apesar de livres, somos bem mais prisioneiros do que aquilo que pensamos !

segunda-feira, setembro 26, 2005



De volta...

Em grande parte das nossas vidas, surgem por vezes momentos de reclusão bem próprios das nossa vivências, das nossas experiências e até mesmo de necessidades internas do nosso ser.
O meu caso, não é de todo excepção e durante este tempo, muita coisa foi pensada, assimilada, apreendida e sem dúvida que isso me fez crescer. Talvez não tanto como gostaria, é certo, mas se a busca incessante de aprendizagem e a constante procura pela perfeição, não fizessem parte de mim, jamais me teria recolhido e nunca me conseguiria ter alheado de muitas e tantas outras coisas, que povoam e consomem o meu quotidiano. Por vezes, o recolhimento a que me sujeito e submeto, é deveras ambíguo e atroz. Sinto-me despido por um vestuário que me aconchega e me dá aparência, sendo que ao mesmo tempo, me encontro sufocado por objectos desconfortáveis que me compõem, adornam e me mantém de alguma forma apresentável.
Talvez apenas pareça uma mutilação exterior, ou uma maneira muito especial de dizer que me encontro presente, em construção ou a ser melhorado. Contudo, no meu íntimo, actualizo-me, desfragmento-me e encaixo peças soltas para que o meu espaço seja melhor conseguido. Que choque brutal, por vezes isso demonstra aos olhos de quem passa... É natural e inteiramente justo. Afinal, para momentos de introspecção e construção interior, são necessários colocar utensílios e peças de cariz agressivo, para que o resultado final se apresente melodiosamente belo e perfeito !

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Lacrimejante sensação de vazio !

Sentimento obscuro, repassado pela violência de pensamentos. É um choro que toma partido de fases concretas do vivido, do pensado, do sentido...
Se conseguisse, treparia continuamente a mágoa cravada pelo tempo e faria dela uma cicatriz suficientemente resistente a qualquer intempérie manifestada pela vida. De nada me vale, de nada a sinto, talvez pelo gelo que se acomoda no seu redor e ao invés de algo palpável e macio, encontro uma estranha rigidez e uma fraca elasticidade no tecido que me compõe.
Talvez não me magoes, seja impossível, mas ainda assim, vê a intenção e a violência com que ainda me penetras e na profundidade com que me atinges.
Nem te dás conta, é um facto, mas se o coração atinges, é no choro compulsivo que liberto a alma, sangro o íntimo e satisfaço a natural carência com que me debato. Tal como uma lâmina que me provoca um profundo golpe na pele, sentir uma estaca invisível de encontro ao meu ego, é algo doentio, demente e tristemente frio. Existirá sempre tanto ódio naqueles que amamos ?
Direi que sim, que é um ódio de estimação por tudo aquilo que gostariamos de sentir e não temos. Dá vontade de agitar o outro, dizer-lhe o que nos faz movimentar, despertar, enriquecer e ser feliz. Que complicado é sacar um sorriso dos que gostamos, depois de tanta entrega, tanto sentimento e boa vontade. Em troca, apenas a leve sensação do dever cumprido e a triste impressão de termos conseguido alcançar o nosso objectivo. Recompensa ? Nenhuma... Talvez o facto dos novos pedidos, nos faça sentir bem pelo que foi dado anteriormente. No fim de contas, ambos nos importamos com o que nos envolveu, tivesse sido amor, ódio, entrega, dádiva ou retribuição. Talvez as lágrimas que nos correm num sentimento de impotência sejam o melhor de tudo. São elas que nos acordam para novos ideais e nos levam as pinturas reinantes, deixando borrada a maquilhagem que tantas vezes usámos e composémos para sermos agradáveis. Coração partido, deixados num lancil de passeio ou simplesmente com um arder interior, é algo digno de anjos sem asas, que nos caem aos repelões, e voam com afiadas lâminas de ingratidão, uso e despojo. Um dia, fá-lo-ei e quando acontecer, lembrar-me-ei da forma nua e crua com que tudo é sentido, imaginado e inventado pela malicia inocente do interesse e da incúria. Talvez o choro que sintas, te lave de igual modo a decadência e doença imortal do ser humano. Nessas lágrimas, estarei presente pelo sentimento de outrora...

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Imagens Reais !

Estranho, quando nos deparamos com imagens e vemos retratada a nossa existência. Pela primeira vez, senti revelada uma vida similar e muito própria em toda a sua plenitude. Pelos factos, em tudo coerente, digna e sincera do meu ser. Muitas vezes, encarnei o espírito de outros e de muitos 'alguéns' que gostaria de ser, mas não desta vez!
Despi o papel de herói que muitas vezes imaginei, tirei o fato de homem corajoso, bravo e aventureiro que gostaria de alcançar... Sempre manifestei a necessidade de entrar no universo das coisas, ir além do que apenas me era visível e palpável, e sentir tudo aquilo que se espelhava bem para lá do meu simples campo visual. Puras imagens, monótonas, agitadas, em repouso ou movimento, traduzem algo bem mais forte e único do que apenas aquilo que se descortina a olho nú. Talvez deste modo, os meus sentidos tenham sido levados ao extremo e me tenham sempre feito sentir como se fizesse parte daqueles enredos, daquelas estórias, daquela arte...
Contudo, o que dizer quando acontece o inverso e vemos que existe uma cópia fiel do que somos? Parece que o conjunto de actores que representam uma peça, que o conjunto de artistas que criam telas, figuras ou meras imagens o fazem em nossa honra, nos invadem a privacidade ou nos usam para seus modelos e inspiração. Quando bem desempenhados, não conseguimos entrar no espirito da arte e apenas nos deixamos fluir e sentir que tudo é um retrato fiel do que vivemos. Pomos de parte a tal vontade de sermos aquilo que vemos diante de nós e agradecemos por não conseguirmos nada mais, do que o orgulho de sermos como somos. Nunca na vida me senti tão agraciado por me fazer entender e embora saiba que tudo o que foi feito jamais terá sido a pensar em mim, a feliz coincidência de ter acontecido, faz-me sentir feliz, muito realizado e preenchido.Talvez seja um grandioso exemplo da minha personalidade e uma forma extremamente directa de apontar como sendo o que sou...

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Insónias!

O que te apraz dizer quando não adormeces?
Talvez um universo imenso de questões, de dúvidas, incertezas ou mesmo um atribuir de algo que não é de todo decifrável.Talvez seja apenas algo físico, um ruido imenso vindo do exterior ou uma espécie de poluição vibroacústica, que nem se sente ou compreende. Contudo, acho que chega a ultrapassar uma razão lógica e é-lhe atribuído um carácter bem mais ausente e real da complexidade humana.Parece-me estar a atravessar um desses momentos e a cada novo minuto que vai passando, acresce-me a preocupação de serem sessenta novos e valiosos segundos que desperdiço na minha noite e que subjacente a isso, perco umas quantas células nervosas essenciais ao meu equilibrio diário. Levanto-me do meu leito quente por não conseguir aguentar nem mais uma fracção de tempo deitado. Distraio-me com tarefas normais que faria em qualquer tempo livre que teria. Pego num livro e apesar da falta de sono, o cansaço impede-me de atingir uma concentração completa sobre o tema que escolhi para me debruçar e entreter. Largo imediatamente o conjunto de folhas que havia pegado e coloco-me de novo num outro patamar. Vejo as páginas on-line dos diversos jornais diários que irão sair á rua dentro de poucas horas. Também isso me faz perder um pouco o encanto, pois sem dúvida que a agradabilidade de ler as manchetes pela manhã num qualquer quiosque, me faria sem duvida despertar outro interesse. Ligo a televisão e embora me mantenha entretido enquanto as teclas do meu ruidoso telecomando, me permitem fazer um zapping acelerado, não vejo nada de particularmente chamativo. Talvez sintonizando uma qualquer estação de rádio, me ajude. Faço-o com satisfação e perante um daqueles sons, daquelas músicas dos meus tempos de criança, recordo com interesse e com a lembrança de momentos anteriormente passados. Sinto-me longe daqui... Imagino-me onde estaria quando ouvia aquelas vozes, em que situações me deparava e que sentimento me faria sentir naquela altura. Perante algumas canções, senti algum saudosismo doentio e fases menos boas. Optei por desligar. E agora ? Que vou eu fazer ? Tomar um anti-depressivo, um sedativo, um ansiolítico , ou regresso ao meu leito, mantendo-me imóvel e estático até que o meu cérebro encontre a paz necessária para descansar ? Não sei, mas até o facto de não ter sono, me deixa stressado. Se fosse criança, seria fácil pegar no meu boneco de peluche, ir para junto dos meus pais dizendo que estava com medo, ou arranjando uma qualquer desculpa para o meu mal.
Sento-me na cadeira do meu quarto. Confortavelmente, encosto-me e deixo-me ficar com a cabeça para trás. Fecho os olhos e tento um descanso artificial desta forma. Ainda assim, milhentas acções deambulam pela minha mente. A preocupação dos dias que virão, tudo aquilo que lhes vem anexado, os aborrecimentos dos dias anteriores e que por mais que tente não se apagam de ânimo leve. Talvez pense demais, mas num estado de fraqueza psicológica, tudo me é permitido. Talvez não enfrente a pressão com a força devida e embora durante o dia nada me afecte, é nas altas horas da noite que me sinto frágil e impotente para derrubar um conjunto de factores adjacentes á minha vida.
Acho que se alguém se lembrasse de telefonar a esta hora ou me mandasse uma mensagem de incentivo, ficaria eternamente grato. Qualquer ser humano normal, reagiria de outra forma, mas comigo não. Digam qualquer coisa, por favor ! Não só deixaria de ficar feito parvo dormindo em pé numa cadeira, como também teria um excelente motivo para me manter bem vivo.
É doentio estar aqui! Lá fora vejo uma, duas, três janelas no máximo, acesas, mas de certeza com pessoas a poderem alegar motivos diferentes dos meus.Tudo me ocorre nestes instantes. Falta de apoio, alguns excessos de uma vida por vezes regrada em demasia, demasiada pressão sobre os ombros, vontades de uma sociedade em nos transformar em algo que não somos nem nunca seremos capazes de ser. Enfim... Parece que aqui também não adianto muito e se tudo isto me modifica e me estraga o metabolismo, talvez seja melhor mendigar e deixar tudo ás avessas. Neste momento é o que me dá vontade, mas sei que amanhã tudo o que digo deixarão de ser apenas palavras ou promessas e tudo retomará o caminho natural. Nada disto é escolhido ou premeditado, mas o poder de decisão nem sempre é válido ou correcto. Se a alguém contar esta minha aventura ou epopeia nocturna, levarei com um "vai dormir, que o teu mal é sono" e isso apesar de me fazer esboçar um largo sorriso e me fazer sentir ou achar ridículo, sei que não é de todo correcto. Apenas, são momentos em que por mais voltas que dê, não consigo dormir.
Fases naturais de uma insónia normal nos dias que correm... Amanhã estarei melhor !