terça-feira, março 20, 2007

Mensagens!

A imensidão azul diante de mim, cobre-se de negro com o cair da noite, não deixando qualquer recado, sendo impossível decifrar na escuridão do teu olhar… O clima sombrio, a brisa com a sua sonoridade aguda e o vento gélido que sopra, não assustam porém, a determinação dos meus passos, nem do trajecto a percorrer. Ao longe, o que a natureza escreve e passa despercebido, foge-te do olhar sem que notes, retirando-se e sumindo sem que te dês ao luxo de o visitar. Escrevendo na noite, escrevendo numa folha escura, de letra desordenada e assustadora, com tinta negra e sumida, o que não importa, não se decifra. Ditando para o luar ou talvez para o mar, mas sem luz radiante, pode ser que me consiga libertar da garrafa neste oceano… Afinal não és navegante de primeira viagem como eu e pode ser que tenhas curiosidade pelas palavras, pelos sentires e pelos dizeres. Há muito que sou a mensagem no interior deste vidro transparente, tantas vezes opaco, tantas vezes sombrio e caso possas encontrá-la, tenta, mesmo no meio da escuridão, ler o conteúdo do papel turvo e apagado. Já é alguma coisa, seria valioso! Aí sim, estarás distante do mar, perto de amar…

segunda-feira, março 19, 2007

Sonho!

Parece tarde...
Sinto o avançar da noite de um modo rápido, violento e directo. O sono parece ter-se extinguido por hoje e diante do sossego e da tranquilidade deste tempo que corre, apodero-me de um copo cheio de ilusões, em busca de uma tentativa vã de força e de descanso. Sentado nesta divisão, oiço passos na porta em frente, cuidadosos, periclitantes, femininos...
Apetece-me observar, saber quem entra, quem partilha comigo este momento tardio de vazio e de espera demente. Do outro lado, reparo na dificuldade em fazer rodar uma simples fechadura, no desespero com que o faz, no tempo que se esgota e enerva cada vez mais... Sorrio maliciosamente, comparando a minha noite calma e tranquila, em contraste com o final de dia conturbado de um vizinho noctívago. Os passos, agora mais fortes e descompassados, vêm ao meu encontro, terminando num bater forte e seco na madeira da minha entrada. O meu ritmo cardíaco acelera, surgindo em mim uma estranha indecisão sobre a atitude a tomar. Consumo segundos, alimentando o desespero da mulher que paira do outro lado. Decido-me a abrir, meio estremunhado pela escuridão da noite, convidando-a a entrar.
Os nervos afectam-na, consomem-na, não permitindo que consiga articular de um modo tranquilo tudo o que a apoquenta. Aconselho-a a ficar, a deixar esperar pela manhã e fazer com que se acalme, encontrando no meu retiro algum sossego e repouso. Acede-me assustada, seguindo-me de encontro à divisão onde a deixarei pernoitar. Volto ao meu quarto sorrindo, novamente com malícia, mas sem intento de algo mais, adormecendo tranquilamente...
Findo a noite e já pelo novo dia adentro, acordo consumido por um sol deliciosamente convidativo. Reparo no lado contrário da minha cama onde jazem peças de roupa interior e um "obrigado" suavemente perfumado. De nada me lembro, de nada sei ou senti...
Sinto-me confuso, perplexo e desconcertado, culpando simplesmente o copo cheio de ilusões. Apenas me parece que tenha sonhado! Nada mais...

Pesadelo!

A visão diante dos meus olhos, encurrala-se e afunila-se de uma forma esmagadora, caída e adormecida de verdade, subindo a cada pequeno passo e custando apenas e tão somente, o elevado preço da minha indigente vida. Escuto-os num aproximar ruidoso que me arrepia o mais ínfimo osso, correndo lado a lado com o tempo, descendo as estranhas colinas do logro e cercando-me sem sentir… O pesadelo sabe-me a morte, a sangue, a um desmonoramento patente e viscoso, lento, exíguo, exigindo-me um acordar repentino, frenético e real. Talvez com o apagar das almas, com o vigoroso despertar da morte e com a extinção de um espírito vivo, tudo se afunde, se escoe no inferno em que me insiro e desapareça com o que sou, resumindo-me apenas a um singelo e inebrioso pó. Tentei durante a noite, não encontrando vestígios de ser alcançado… É como se tivessem apenas desaparecido, sabendo de antemão a distância a que se encontram, sentindo-os aproximarem-se arrepiando-me, esgotando o tempo que ambos dispomos, vindo ao meu encontro e dilacerando-me de um modo nú, primitivo e imaginário. Resistirei debatendo-me, lutando e não permitindo que me entregue. Comecemos a matança lado a lado, por nós, por ideais diferentes, por razões opostas e imperceptíveis em relação ao outro. O pesadelo mantém-me estranhamente acordado, vivo e assustado, lutando a minha mente neste estado opressivo e de aflição, querendo que me acorde, me desperte e me transporte à realidade concreta.
Finalmente, o meu sol vai aparecendo, levando consigo os gritos dos que me atormentaram, dos que pereceram e extinguindo todos os outros que ainda atordoados, permaneceram de pé. É este o final do que ambos começamos? Lembrar-nos-emos do que ambos teremos feito de errado? Direi que não! Foi tão somente um sonho mau, em que a irrealidade se apoderou de mim num estado demasiado possessivo e de estranha utopia ou ilusão… Detesto pesadelos!

quarta-feira, março 14, 2007

Toque!

Suave sensação de prazer, de afecto, de entrega...
O odor corporal, remete-me para o limiar do instinto, permitindo que o toque se complete na mais primária absorção do teu ser. A pele, o instrumento perfeito para um frenético esboçar de sentimentos, de entrega, de movimentos ondulantes num cadenciado vaivém de prazer, de romantismo, de paixão doentia, de expressões complexas, de irrealidade...
O culto do corpo, descreve-se por si só num ondular disforme, numa procura e busca desenfreadas pelo conforto, pelo consolo e comodidade, tentando uma inserção perfeita numa básica e correcta absorção do outro. O apetite voraz que nos habita e consome, deixa-nos entregues a uma explosão de várias tonalidades, a transformações químicas tão rápidas quanto instintivas, a um sem número de abstracções e complexo alheamento do que nos rodeia.
Derreto-me num revirar de olhos, num suor quente e repentino, num estranho e doentio pulsar de sensações... Quero-te!

segunda-feira, março 12, 2007

Impurezas!
Tempo, onde o mar me beija com uma espuma permanente, me seduz nos acentuados tons de azul e me deixa rendido ao poder, ao prazer e ao magnífico odor a imensidão e grandeza...
A luz espelhada atinge-me no núcleo do meu ser, prostrando-me diante de si, iluminado, abençoado, quase sentindo uma enérgica reacção de força, de devoção e crença, tão somente pelo acto de me deixar naufragar e engolir por este encanto.
O sopro diante de mim, convida-me a desejá-lo, o ruído cavernoso e barulhento das enormes vagas que rebentam, tenta-me a escutá-lo cada vez mais perto.
Mais do que o descrever fisicamente, abunda-me a necessidade de o sentir, de permitir que seja apenas um de muitos factores naturais a influenciar o meu estado de espírito e o lento reagir a processos diários de uma vida tantas vezes complexa e inexplicável.
Consumo neste momento, o antídoto certo para um dos meus vírus...
Acabo de mergulhar, purificando-me em águas viajantes, na esperança de me libertar da sujidade que me inquieta...