sábado, agosto 14, 2004

Utopia !

Como desejaria que desviasses o olhar na minha direcção e mantendo a mesma postura que te veste, mostrasses um sorriso rasgado, bem pintado nessa face rosada e dilacerada pelo tempo...
Como me apeteceria pegar-te em meus braços e rodopiar dançando, sorrindo, olhando e mostrando o meu rosto de felicidade aos deuses que me observam e protegem. Seria uma dança de amor, de alegria e de um coração preenchido, deixando que toda esta envolvência se estendesse também a ti e fosse partilhada por ambos.
Fechando os olhos e imaginando essa possibilidade, desejaria que este momento fosse eterno, único e egoísta, para que me sentisse pleno de felicidade e encanto. Se soubesses como me sinto frio,calculista,deturpado, se me visses o interior e o desencanto, se me tocasses na solidão, no medo e no receio, saberias que o teu simples olhar me iluminaria a vida, me deixaria esperançado e me aqueceria o íntimo. Fecho os olhos de novo, preferindo imaginar-te comigo do que sentir que te vejo, passando despercebido e ignorado. Desta forma sei que te encontro as vezes que quero, te tenho a meu lado sob todas as formas e se a tristeza e a dor de não te possuir são amargas, valerá a pena alimentar o meu ego com a tua imaginária existência em mim.
Ver-te-ei de novo, ou é apenas um fugaz encontro pela tua presença física em meu redor ? Não sei. Apenas acredito que enquanto puder dançar contigo e segurar-te com os meus braços, irei desejar que o momento perdure e se estenda pela vida eterna. Dança comigo de novo, deixa-me que te segure como antes, deixa-me que te aperte mais uma vez...
Findo o sonho e o encanto, abro os olhos lentamente. Vejo-te já distante e de partida. Nunca saberei se me olhaste, sorriste ou terás fixado o olhar num outro ponto. Talvez seja tímido, receoso e envergonhado. Talvez não tenha a coragem necessária para te enfrentar e dizer o que sinto. Contudo, estou bem ciente da diferença das nossas realidades. Mundos distintos, ambos complexos e em tudo diferentes, mas com a noção de ainda assim serem similares.
Lamento desejar algo que não consiga tocar, mas enquanto viver e me permitir sonhar com um objectivo próprio, manterei viva a chama no meu interior. Ainda que não toque, saberei que o meu espírito e a minha força conseguiram bem mais que isso e é quanto me basta para me preencher. Mantenho a esperança, a crença e a fé, porque se interiormente chegar a determinado estaturo, faltará um pequeno passo para o realizar...
Voa !

Dentro de ti, lágrimas de pura frustração descem em cascata na direcção do teu íntimo, do teu espírito, do teu coração... O que poderia preencher essa alma conturbada? Talvez nunca o saibas.
Segue-me, entra no meu doloroso mundo, na essência da eternidade, numa mente aberta e ilimitada, sentindo a viagem... voando pela noite !
Quebra, mundo ferido... Queda, mentes doentes sem lugar para pernoitar, ardendo num fogo de mentira, derretendo o gelo da verdade.
Voa, entra no meu mundo doentio, na eternidade...
Voa, abrindo a mente e seguindo viagem.
Voa... pela noite !
Encontrarei a luz e a trarei para bem junto de ti.
A esperança encontra-se perto, o fogo da mentira parece extinguir-se.
Voa... sempre !

quinta-feira, agosto 05, 2004

Atalhos !

Deparando-me com uma encruzilhada em que a confusão e indecisão reinam e pairam sobre mim, por vezes a melhor escolha será tomar um dos caminhos, sem que me venha e lamentar e a criticar por isso. Tomando a esquerda ou a direita, o importante será mesmo saber em qual dos pólos confinei a minha decisão, e nela jamais creditar todo o fracasso ou sucesso que daí me advenha. Independentemente do caminho árido ou suave que venha a sentir, terei sempre de realçar que sou suficientemente hábil e crente nas minhas capacidades, para saber aceitar e viver com exactidão, num ambiente por mim criado.
Ainda por vezes, nesse mesmo processo de escolha, me posso permitir a adquirir um meio termo e nele poder saborear o doce e o amargo de cada uma das partes. Dado a escolher entre as trevas e a luz, escolheria o espaço entre elas, porque me permitiria viver sempre e quando quisesse, mas também morrer quando assim o entendesse. Com isto, faria com que a minha vida fosse algo mais que uma normalidade, transmitindo-lhe um encanto e um fascínio, com uma metamorfose por mim conseguida e em todo controlada. Ainda assim, não deixaria de evidenciar feridas interiores e rasgos superficiais de dor e mágoa, devido a uma vida em que o processo de cura e envenenamento está bem patente no meu subconsciente. O factor humano é pródigo no saber ferir, ser ferido, mas tem na luta e na crença, a força ideal e a capacidade de se alhear do sofrimento, sabendo e buscando incessantemente o antídoto certo para determinadas situações.
Deparando-nos com o abismo, seja por atracção ou refúgio, a encruzilhada volta a fazer-nos companhia, levando-nos novamente a um estado de indecisão doentio e em que a pressão da escolha toma novamente uma proporção gigantesca e ameaçadora do medo e receio que sentimos. Pautados pela razão e pela emoção, resta acima de tudo, conseguir juntar ambos os conceitos e permitir que se encaixem e complementem de uma forma indissociável. Há que equilibrar de uma forma racional e directa, pois se a razão gere, acumula e toma a iniciativa, a emoção é tudo aquilo que deve ser gerido e tomado em linha de conta pela sensibilidade das coisas... Resta-me escolher e seguir em frente, mantendo uma polivalência e uma sagacidade naturais para conseguir contornar eventuais precalços, por atalhos direccionados ao caminho por mim traçado.