segunda-feira, junho 26, 2006

A espera !

O desacerto contínuo de um momento de solidão invade-me, atormenta-me e adormece-me lentamente, quase trazendo até mim uma sonolência e uma enfermidade doentia e inoperante.
Lenta esta agonia, este tempo estúpido e mesquinho na espera de algo, cujo sabor me parece insípido e cuja coloração assume contornos de invisível e simultâneamente de opaco.
Conto os minutos, os valiosos segundos que se gastam e me envelhecem nesta espera. Nada cresço, nada de novo me apraz registar...
Morro suavemente com o passar das horas, numa reclusão concedida e dela necessitando para meu sustento.
Rodeado de paredes decoradas por embustes estrategicamente colocados, desafio a minha resistência, testo a minha capacidade de sacrifício, paciência, aguardando que qualquer presa me visite e possa cair na minha rede de argumentos.
Afinal, mais do que qualquer outra espera, situo nesta toda a minha capacidade física e mental, características e aptidões. Ainda que me sinta envelhecer de um modo precoce, mantenho-me ciente dos meus níveis de saturação de limite humano.
É esta uma das minhas muitas vidas...
Lábios !

Agradável beijo, levemente pincelado com o teu ser que nele emprega todo o corpo, todo o espírito e a mim se entrega num círculo de sentimentos e sensações indescritíveis.
Sinto o leve tocar de lábios, deles me alimentando, consumindo a tua existência e fazendo dela o elixir do meu equilíbrio, necessitando do calor terno e morno da tua boca para me nutrir, procurando o viver saudável que o teu beijo me transmite.
Beija-me por instantes, de modo longo, demorado, perdendo a dimensão e a noção do tempo, do espaço, consumindo-me e dando-me tudo o que és, sentes e podes viver.
Excita-me sentir-te assim, com pequenos laivos de instinto, deixando que o coração sinta o que a razão desconhece e me deixe viver contigo o que de mais belo existe na tua carícia, no teu mimo, no teu doce ser que tanto me completa e faz crescer.
Envolto num doce mistério, sinto-te em sintonia comigo, bebendo ambos do mesmo mel que em nós se produz, se manifesta e sem que nos apercebamos, nos alimenta, nos faz sentir um no outro e propaga de um modo lento, cadenciado, mas pleno desse amor que por nós irradia.
Beija-me novamente, cada vez mais e de uma forma atroz, calculista, audaz, deixando que transpareça tudo o que sentes, tudo o que desejas, amando-me, mordendo-me, devorando-me com doses de pura loucura, insanidade para quem nos desconhece e observa, mas assumidamente condimentada na perfeição, como uma conjugação de ingredientes e factores por ambos vivida. Sente-me amando-te e retribuindo muito mais que um simples tocar de lábios famintos e ardentes...
Ama-me pelo beijo, consumindo-me até à exaustão.