Lacrimejante sensação de vazio !
Sentimento obscuro, repassado pela violência de pensamentos. É um choro que toma partido de fases concretas do vivido, do pensado, do sentido...
Se conseguisse, treparia continuamente a mágoa cravada pelo tempo e faria dela uma cicatriz suficientemente resistente a qualquer intempérie manifestada pela vida. De nada me vale, de nada a sinto, talvez pelo gelo que se acomoda no seu redor e ao invés de algo palpável e macio, encontro uma estranha rigidez e uma fraca elasticidade no tecido que me compõe.
Talvez não me magoes, seja impossível, mas ainda assim, vê a intenção e a violência com que ainda me penetras e na profundidade com que me atinges.
Nem te dás conta, é um facto, mas se o coração atinges, é no choro compulsivo que liberto a alma, sangro o íntimo e satisfaço a natural carência com que me debato. Tal como uma lâmina que me provoca um profundo golpe na pele, sentir uma estaca invisível de encontro ao meu ego, é algo doentio, demente e tristemente frio. Existirá sempre tanto ódio naqueles que amamos ?
Direi que sim, que é um ódio de estimação por tudo aquilo que gostariamos de sentir e não temos. Dá vontade de agitar o outro, dizer-lhe o que nos faz movimentar, despertar, enriquecer e ser feliz. Que complicado é sacar um sorriso dos que gostamos, depois de tanta entrega, tanto sentimento e boa vontade. Em troca, apenas a leve sensação do dever cumprido e a triste impressão de termos conseguido alcançar o nosso objectivo. Recompensa ? Nenhuma... Talvez o facto dos novos pedidos, nos faça sentir bem pelo que foi dado anteriormente. No fim de contas, ambos nos importamos com o que nos envolveu, tivesse sido amor, ódio, entrega, dádiva ou retribuição. Talvez as lágrimas que nos correm num sentimento de impotência sejam o melhor de tudo. São elas que nos acordam para novos ideais e nos levam as pinturas reinantes, deixando borrada a maquilhagem que tantas vezes usámos e composémos para sermos agradáveis. Coração partido, deixados num lancil de passeio ou simplesmente com um arder interior, é algo digno de anjos sem asas, que nos caem aos repelões, e voam com afiadas lâminas de ingratidão, uso e despojo. Um dia, fá-lo-ei e quando acontecer, lembrar-me-ei da forma nua e crua com que tudo é sentido, imaginado e inventado pela malicia inocente do interesse e da incúria. Talvez o choro que sintas, te lave de igual modo a decadência e doença imortal do ser humano. Nessas lágrimas, estarei presente pelo sentimento de outrora...
terça-feira, fevereiro 08, 2005
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