Caixas !
Que absurdo e estranho é este mundo que habitamos...
Sem ligarmos aos outros seres que coabitam connosco, paremos um pouco para pensar nos utensílios, objectos e construções que nos servem de auxílio e suporte para uma vida supostamente melhor. Basta por exemplo, olharmos para o lugar que nos serve de abrigo, nos aconchega e conforta e ao qual chamamos, casa, lar, ninho, ou o que quer que seja. Apesar de ser nele que nos sentimos com total privacidade e bem-estar, não passa de um amontoado de pequenas divisões, compartimentos e separadores labirínticos. No fundo, o que tento tentado entender, é que toda a nossa vida é feita dentro de caixas, de pacotes e de moldes mais ou menos antagónicos e em nada defensores do ar livre e "espaço aberto", que os seres vivos tanto necessitam para se expandirem e libertarem. Até nos momentos de suposto divertimento e lazer, nos remetemos a esta espécie de arrumação mórbida de clausura e recolhimento.
Dentro do meu apartamento, encontro-me cercado por paredes, por um tecto que me sufoca e esmaga de encontro ao chão e de uma minuscula área de suposta liberdade, que ainda assim me limita o ar que respira e o infinito a que me permito alcançar. É nesta espécie de formigueiro que habito, com vizinhos, com amigos e até familiares... Todos juntos, todos prisioneiros de um material que nos protege e esmaga pela dureza das suas formas.
Bem cedo, liberto-me da minha caixa-mor, entrando numa outra que me permite mover e circular de encontro a tantos outros locais cujo destino me proponha a alcançar. Talvez seja esta mais agradável, porque me movo, porque posso ver e respirar de uma outra forma, ouvir algo mais e estar mais atento, mas ainda assim me encontro novamente cercado de materiais que me blindam a passagem para o exterior. Mais uma vez, parto ao encontro de mais um depósito fechado, seja para trabalhar, fazer compras ou até mesmo um lugar de diversão. Esteja onde estiver, parece que a necessidade de estarmos encerrados em compartimentos exíguos se acentua cada vez mais e de uma forma severa, tal e qual quando se pune uma criança e se a manda para o quarto. Não estaremos também nós mesmos, fechados num quarto, de castigo e pagando pela imoralidade dos tempos modernos? A única forma de libertação, surge quando procuro um contacto directo com a natureza. Aí, expando-me. Liberto-me de uma prisão ofegante e permito-me erguer os braços, correr e gozar de uma liberdade raramente conseguida neste mundo artificial. Que malditas caixas haveriam de ser construídas para nos colocarem...
Apesar de livres, somos bem mais prisioneiros do que aquilo que pensamos !
sexta-feira, setembro 30, 2005
segunda-feira, setembro 26, 2005
De volta...
Em grande parte das nossas vidas, surgem por vezes momentos de reclusão bem próprios das nossa vivências, das nossas experiências e até mesmo de necessidades internas do nosso ser.
O meu caso, não é de todo excepção e durante este tempo, muita coisa foi pensada, assimilada, apreendida e sem dúvida que isso me fez crescer. Talvez não tanto como gostaria, é certo, mas se a busca incessante de aprendizagem e a constante procura pela perfeição, não fizessem parte de mim, jamais me teria recolhido e nunca me conseguiria ter alheado de muitas e tantas outras coisas, que povoam e consomem o meu quotidiano. Por vezes, o recolhimento a que me sujeito e submeto, é deveras ambíguo e atroz. Sinto-me despido por um vestuário que me aconchega e me dá aparência, sendo que ao mesmo tempo, me encontro sufocado por objectos desconfortáveis que me compõem, adornam e me mantém de alguma forma apresentável.
Talvez apenas pareça uma mutilação exterior, ou uma maneira muito especial de dizer que me encontro presente, em construção ou a ser melhorado. Contudo, no meu íntimo, actualizo-me, desfragmento-me e encaixo peças soltas para que o meu espaço seja melhor conseguido. Que choque brutal, por vezes isso demonstra aos olhos de quem passa... É natural e inteiramente justo. Afinal, para momentos de introspecção e construção interior, são necessários colocar utensílios e peças de cariz agressivo, para que o resultado final se apresente melodiosamente belo e perfeito !
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