terça-feira, abril 20, 2010

Mente Física.

A mente inquieta-me e lateja-me como se fisicamente lhe tocasse.
O movimento circular das falanges na base do meu crâneo, alcança-me o subconsciente, alivando-me e deixando-me num lugar compreendido entre o real e o imaginário. Como é possível que numa porção tão pequena de matéria humana, pareça existir um interruptor que irrompe e se interrompe a cada novo toque?
Sempre que o faço, a memória surge-me de pronto. Reveste-me o olhar com um riquissimo horizonte de lembranças e recordações... As nuvens ganham auras de luz, a transparência das lágrimas completa-se de côr, o tempo pára, retarda e avança consoante a duração da minha viagem...
Por vezes, pincelo-me de imaginação, juntando o sonho ao episódio marcante da transversalidade que por mim ocorreu. As dúvidas dissipam-se, os receios também...
Imagem após imagem, torna-se curioso este encadeamento a que me sujeito e onde faço questão de reescrever o meu próprio argumento. Junto-lhe sons, dou novas cores a este meu plano de fundo, modifico o que não gosto e acrescento-lhe factores que outrora desconhecia. Revivo tudo novamente, como se acabasse de nascer e tivesse a maravilhosa capacidade de criar a minha própria imagem... Alimento-me dela!
Páro por instantes e mais uma vez, rebuscando novos detalhes, novos pedaços na distância do meu tempo, procurando com a máxima clareza, toda a exactidão que por mim se escreveu. O reflexo é intenso em cada pausa. Por vezes cega-me, por outras irradia um brilho que me fascina, entusiasma e hipnotiza por largos momentos. Naturalmente, tudo o que sinto e transformo, poderia ser aquilo que à partida fosse dado como irreal, fantasioso, alegórico... Poderia até, ser o resultado de uma imaginação demasiadamente sonhadora, descuidada, fútil e inocente... Contudo, não é!
Ainda que a mente me divague e quase atraiçoe, não lhe consinto que apague do meu íntimo todo o viver que fisicamente acolheu. No fundo, nem pretendo alterar qualquer rumo, seja por despojo, vergonha ou embaraço. Simplesmente componho a tela que pinto, sempre com a inspiração da minha vida, ainda que os novos traços lhe confiram o toque e a perfeição que tanto desejo e ambiciono. Que o resultado permaneça vincado eternamente, alimentado pela mente que do mesmo modo lhe permitiu tocar tão fisicamente como até aqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

"pincelo-me de imaginação, juntando o sonho ao episódio marcante da transversalidade que por mim ocorreu. As dúvidas dissipam-se, os receios também..."


Os receios que invadem a mente e comprimem o coração.

Mary