terça-feira, março 07, 2006

Sensibilidade.

Parece um crime levar todos os tesouros e fortuna que reuni ao longo dos tempos. Apesar das correntes e do loquete que se perpetuam no meu peito, jamais serei capaz de as quebrar, simplesmente com o intuito de retirar do meu interior tudo o que de mais valioso mantenho.
Ainda que viva em mim uma hipnotizante mancha de reflexão, cuja coloração me confunde e desnorteia, o simples facto dela existir no meu íntimo, faz com que se derreta e se extinga num dourado extraordinário e extremamente precioso.
É a doce futilidade do amor, esse travo amargo que nos é cravado pelo tempo e nos faz tornar nuns estranhos seres, surpreendidos pelo sentimento de afeição e veneração, misturando factos emocionais de atracção e paixão...
Cada lágrima vertida em cada parte do rosto, parece secar no desespero e na dor aquando da perda, da privação, do extravio ou interrupção dessa disposição afectiva a que muito condignamente, apelidamos de amor. Parecemos viver o suficiente, ter a necessária experiência para conviver com as razões, motivos ou argumentos que nos levam a quebrar a singela corda, que sempre nos pareceu tão resistente, sólida e duradoura. Sente-se o fim bem próximo, quase selamos um pacto com a morte, julgando ser apenas ela a nos conseguir trazer as doces e felizes memórias, de um passado demasiado envolvente... Vivem-se horrores assombrosos, parecendo drenar toda força e respiração ofegante que em nós habita e aos poucos se dissipa...
Nada nos resta, nada nos vale... Apenas reside em cada um de nós, a cinza e a poeira, suavemente lavadas por uma qualquer gota de água que ocasionalmente nos pincela e nos extingue. Libertemos o sangue que dói, fere e importuna, mantendo sempre bem vivo e protegido, o coração que nos permite sentir e viver.

1 comentário:

Ludmila disse...

A intensidade do sombrio medo de dar o proprio ser... Abrir o peito a facas alheias... que podem desferir o golpe (que se pensa) mortal...
Abrir as mãos para receber o mar... a areia... a brisa... o amor... Todos estes elementos não ficam presos nas mãos... mas deixam sempre algo... Ás vezes para sempre!
Beijo!