segunda-feira, novembro 19, 2007

Tempos!

Gosto de viver memórias, reinventar o passado, alcançar sapientemente o futuro...
Será tão somente o sábio caminho de conseguir saber envelhecer, tactear tempos, saborear sensações, viver experiências. Estranho viver este, que me faz parar e usar todos os sentidos que a vida física me deu, alcançando o ponto de equilíbrio entre o tempo e a breve passagem por um trilho desconhecido, curto embora tremendamente grandioso, sinuoso e bastante complexo.
Páro nos mesmos locais de sempre, adorando sentir a forma como se mantém intactos, inalterados e plenamente coerentes com o passar do tempo. Também envelheceram, é certo, mas acompanharam-me num trajecto paralelo, gastando-se na sua concreta medida e sem grandes alterações dignas de registo. Gosto de frequentar as mesmas ruas de criança, as mesmas praias, os mesmos campos, as mesmas formas de se situarem diante de mim e como é bom ver tudo isso com o passar do tempo. Chego a sentir orgulho por uma paisagem natural que pouco se modificou, fitando-a com carinho e simpatia com um sorriso rasgado de menino feliz. Páro por instantes, imaginando o Sol ali sentido outrora, a chuva que amparei nesses tempos, os pássaros já passados e então sim, ergo as mãos, reparo na passagem de tudo isso e vejo-me reflectido nesses mesmo horizontes. Que estranho é sentir que o mesmo Sol parece diferente, que a aragem mudou, que as mesmas pedras parecem mais gastas e que as águas não são as mesmas, ainda que por ali continuem a passar... Volto a tocar-me, acreditando que mesmo parecendo tudo na mesma, tudo também se altera e se modifica. Não sei se sinto saudade daquele clima, daquela ambiência naquele tempo, mas não deixo de viver ou sentir uma estranha sensação de deja-vu, ainda que alterada pelo próprio tempo. Basta-me contudo olhar para mim, para a forma como cresci, como me tornei mais maduro, como vejo a pele enrugar, como sinto o cabelo cair, como me sinto a envelhecer...
É bom estar ali, dizer que ali era criança, ali me senti adolescente, ali me tornei homem e ali deixarei de estar quando morrer. É como montar um mesmo puzzle durante anos, sabendo que apesar da mesma imagem, sentimos sempre algo de novo em cada peça.
Que maravilhosa sensação...

2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei ler-te (como sempre), embora nao viesse cá ha tempo já ...

Um grd beijinho e b f semana

Anónimo disse...

Recordar é viver... O tempo passa mas o essencial permanece belo e inalterável.

Bom fim-de-semana!