Doce o tempo, onde o cair de noite nos veste com o seu manto de luar, despindo-nos a pele dos contrastes do sol, do lento movimento dos ventos que nos tocam e nos beijam o corpo de um modo disforme e incoerente...
O ritmo dos corpos dança e baila neste crepitar de sensações, de suspiros, de contemplação pelas maravilhas que a nossa vista alcança, do ego que se alimenta pelo que lhe é agradável e simplesmente tentador... Ao longe, vejo o que gostaria de sentir e viver profundamente.
Estranho este lamento, este gostar e sentir das coisas sem qualquer mudança, ter a noção de agarrar o tempo, o espaço e preferir deixar tudo como se sente e como se vive nos instantes de maior prazer e satisfação interior. Arrepia-me pensar que o desejo de permanecer para sempre agarrado ao que amo, ao que adoro, ao que quero eternamente sentir, possa mudar, deva mudar e me deva levar. Porque será que os instantes que tanto amamos e que tanto nos dizem algo, passam tão repentinamente que mal os vivemos, mal os sentimos e continuamos na incessante busca de os repetir exactamente da mesma forma com que tudo sucedeu? Porque será que aqueles finais de tarde nos maravilhosos tempos em que a beleza de cada pôr-do-sol se esfuma e desaparece, tem de partir, tem de sumir, terá de desaparecer e nos deixar entregues à lente e triste escuridão da noite? Preferia agarrar o tempo, fazê-lo permanecer com a mesma luz, com o mesmo calor, com a mesma brisa, com o mesmo bem-estar de cada momento de felicidade...
Infelizmente tudo passa, tudo se completa, tudo parece voltar á forma inicial do círculo ainda que de modo diferente... Tudo é irrepetível, tudo passa, tudo se transforma...
Feliz de quem vive na felicidade dos momentos e os compreende... Infeliz de quem vive na ânsia do tempo perdido e na recordação dos instantes futuros... Espaços, apenas...
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