
O desacerto contínuo de um momento de solidão invade-me, atormenta-me e adormece-me lentamente, quase trazendo até mim uma sonolência e uma enfermidade doentia e inoperante.
Lenta esta agonia, este tempo estúpido e mesquinho na espera de algo, cujo sabor me parece insípido e cuja coloração assume contornos de invisível e simultâneamente de opaco.
Conto os minutos, os valiosos segundos que se gastam e me envelhecem nesta espera. Nada cresço, nada de novo me apraz registar...
Morro suavemente com o passar das horas, numa reclusão concedida e dela necessitando para meu sustento.
Rodeado de paredes decoradas por embustes estrategicamente colocados, desafio a minha resistência, testo a minha capacidade de sacrifício, paciência, aguardando que qualquer presa me visite e possa cair na minha rede de argumentos.
Afinal, mais do que qualquer outra espera, situo nesta toda a minha capacidade física e mental, características e aptidões. Ainda que me sinta envelhecer de um modo precoce, mantenho-me ciente dos meus níveis de saturação de limite humano.
É esta uma das minhas muitas vidas...