terça-feira, fevereiro 27, 2007

Códigos!

Fórmula do meu encanto, encriptada pelo desconhecido, decifrada apenas pelo dom da vida...
Parece simples o código genético e a divisão celular de uma junção estranhamente obtida. Contudo, a complexidade do ser daí advindo, remete-nos para múltiplas questões, dúvidas e incertezas.
Que passagem é esta afinal, que se compõe por um trajecto de início e fim de curso, que nos molda interior e exteriormente, nos modifica e transforma, nos usa e abusa sem que nada consentamos e no fim de tudo, mais não é que uma linha recta cheia de obstáculos?
A liberdade que julgamos ter em cada escolha, opção e desenlace, é fictícia. Seremos sempre condicionados por factores reais, sociais, fisiológicos, mentais, físicos... O prazer, por exemplo, não passa de uns meros segundos de satisfação, dando lugar a pequenas depressões quando o deixamos de sentir. A vontade, assenta em critérios de força, de luta, de conquista e de múltiplas vertentes de coragem para transpor metas...
Em cada canto e aresta pairam soluções, ainda que se assemelhem com muros intransponíveis em que a única decisão pareça ser um voltar atrás.
Algures, no mais recôndito poço da nossa mente, estarão as verdadeiras equações, contendo a solução adequada para cada etapa. Ainda que não se prove fisicamente cada dúvida, as respostas encontrar-se-ão sempre lá... Usem-se!

Metas!

...e ao centésimo post, findarei o meu percurso.
Não que me sinta cansado de escrever, parco de imaginação ou fluidez de sentimentos, mas porque entendo que por vezes é preciso saber onde acabamos, onde iniciamos novos projectos e essencialmente, termos a plena consciência do que somos, de tudo o que fazemos e tenhamos a certeza dos timings correctos para uma saída perfeita.
Foi um prazer imenso, um explorar sensações, uma forma corajosa e perspicaz de chorar por dentro, de rasgar a pele que me veste, de recolher energias, libertar forças, ajustar tempos, aliviar sentimentos...
No final de contas e após todo este tempo, tudo ficou por dizer. Parece que tudo foi vago, imperceptível, complexo... Mais do que querer sinónimos pessoais, comentários deixados ou mesmo sensações, o meu instinto foi sempre de mero desabafo, de visão alargada, de compreensão interior e do enorme gozo que toda essa ínfima pesquisa me proporcionou. Apesar dos elogios deixados, dos convites para me dedicar a uma escrita profissional, a minha postura manteve-se intacta. O objectivo, único e muito pessoal, foi conseguido na plenitude e sinto-me tremendamente realizado por isso. Nesta dezena de textos que ainda me faltam, continuarei a usar da minha palavra o melhor que sei, o melhor que vejo e o melhor que sinto... Ainda que tenha usado disfarces camaleónicos para melhor encarnar cada etapa, em todas elas houve sentimento, entusiasmo, sensibilidade, emoção e afecto.
Que haja tão somente amor e paixão em cada pequeno passo. A tudo se aplica!
Sossego!

Chove lá fora...
As gotas colam-se na janela, aguardando outras, esperando fundirem-se e acompanharem a gravidade que não deixa de as arrastar.
Cá dentro, a tranquilidade sossega-me. O silêncio imperioso desta divisão acalma-me, irradia paz e fortalece a minha mente. Fecho os olhos, medito parecendo ouvir uma linguagem zen, uma musicalidade divina, relaxante, tranquila, apaziguadora...
Visualizo imagens sem nexo, disformes, simétricas, semelhantes a uma visão caleidoscópica. As cores fundem-se, transformam-se através de ligeiros salpicos de luz e depressa passam para algo diferente, como se de uma breve mudança de slide se tratasse. Permaneço neste estado sem a noção de tempo ou espaço... Quero saber onde desaguo e de que forma o faço. Termino esta investida intemporal na escuridão! Encontro-me agora num buraco negro, sem contornos, sem obstáculos, sem luz... A música e o ambiente volatilizaram-se. Aos poucos, vou abrindo os olhos ainda embriagados pelos raios de sol que agora me invadem o corpo... Que recondita viagem acabei de fazer.

domingo, fevereiro 18, 2007

Paz isolada!
A escuridão protege-me, as sombras acalmam-me...
Liberto apenas o rosto num fraco feixe de luz, permitindo que a vida ganhe contornos de trevas.
Doentio? O suficiente para me fazer implodir num distanciamento entre o ego e a carne. O necessário para me movimentar no mais infímo interior... O lugar perfeito!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Regressão!

Que bom seria, poder viajar no tempo e encontrar-me num qualquer período da minha vida, poder visitar-me em que altura me apetecesse e fazer uma perfeita regressão através do espaço, viajando e indo em busca de algo que por vezes tanta saudade me deixa...
Sabe bem recordar-me como criança, do cheiro dos lápis na primeira escola, dos dedos sujos e doridos pelas primeiras letras... Das tardes de brincadeira, em que no largo onde morava, empurrava caricas pelos passeios, jogava à bola com sapatos rotos e gastos pelos muitos pontapés que dava em tudo... Saudade também dos três grandiosos choupos que davam sombra todo o verão, em que se ouviam ruidosamente o bater dos ramos e folhas movimentadas pelo vento. Dos cães vadios, quase mascotes e companheiros de um bando de miudagem feliz e irrequieta... Da música que saía de uma janela com os sons da época, colocada por um vizinho um pouco mais velho e dono de uma infindável colecção de LP's... Grata recordação também da velha mercearia onde nos abastecíamos de gelados e odiávamos o dono por sempre nos tentar enganar nas saudosas moeditas de escudos... Do fantástico cubo mágico que tanto adorava, embora nunca o tenha conseguido ordenar sem batotice... Das correrias, das molhas que a chuva me dava, dos transportes velhos que tantas vezes usei, da vida difícil, dura e cansativa que tantas vezes me acompanhou... Dos carros que se vendiam na altura e hoje são vistos quase como sucata... Que bom é recordar o primeiro beijo, desmazelado, despreocupado, mas pleno de intenção... O cheiro do primeiro amor, dos amigos, dos colegas, das aventuras... Custa acordar e deparar-me que nada disto existe nem voltará a existir. O encanto e a magia desapareceram! A velha escola é diferente, os choupos foram cortados, as mesmas músicas tocam agora no meu rádio em vez de sairem daquela janela de madeira branca e sempre aberta de par em par...
O resingão da mercearia partiu, os amigos cresceram, tornaram-se adultos e fizeram as suas vidas... Tudo o que existia, desapareceu como feitiço! Choro no real pela saudade, sorrio na recordação quando regresso em pensamento... Soberbo!