segunda-feira, maio 26, 2008

Maldições...

Dias esquecidos, sem que a luz, o brilho e toda a envolvência que lentamente nos abraça, consiga prevalecer perante a noite…
Corações vazios, sem chama, sem querer, compostos de um denso nevoeiro que se reveste com o cair de mais uma noite, com o chegar de um carregado simbolismo de suposta escuridão e alimentada por um peito de intensa seiva envenenada.
Parece ser desta forma que tudo cresce, tudo resiste e tudo se alimenta, com uma personalidade roubada, com um coração sem vivência e uma mente insapiente. Até a alma se funde no tempo, congelada, presa e demasiadamente contida num estranho seio de acomodação e descrença.
Colho-te por entre os mais ínfimos rochedos, num lugar de nada, vazio de tudo, quase num estranho limiar de morte e onde afinal ainda pareces trazer no teu olhar, o caminho de volta…
Mesmo tudo iluminando, permite-me que te veja com o enorme clarão que produzes, escondendo-me tentadoramente da imensa luz capaz de me cegar.
Acto mortal de um choro compulsivo, de uma maldição inexplicável que novamente me atrai e repulsa, numa coragem quem sinto ser capaz de libertar e ao mesmo tempo de esconder, num medo, numa cobardia e num receio de te pegar.
Se o conseguir, se te tocar e arrancar do lugar onde te encontras, alcanço-te a mente, tiro-te um pedaço do coração que por ti vive, absorvendo para mim toda a tua alma e eternidade.
Ilumina-me e encandeia-me até aí… O resto, viverá no meu ser com um misto de coragem e cobardia. Continua…

terça-feira, maio 13, 2008

Espaços...

Doce o tempo, onde o cair de noite nos veste com o seu manto de luar, despindo-nos a pele dos contrastes do sol, do lento movimento dos ventos que nos tocam e nos beijam o corpo de um modo disforme e incoerente...
O ritmo dos corpos dança e baila neste crepitar de sensações, de suspiros, de contemplação pelas maravilhas que a nossa vista alcança, do ego que se alimenta pelo que lhe é agradável e simplesmente tentador... Ao longe, vejo o que gostaria de sentir e viver profundamente.
Estranho este lamento, este gostar e sentir das coisas sem qualquer mudança, ter a noção de agarrar o tempo, o espaço e preferir deixar tudo como se sente e como se vive nos instantes de maior prazer e satisfação interior. Arrepia-me pensar que o desejo de permanecer para sempre agarrado ao que amo, ao que adoro, ao que quero eternamente sentir, possa mudar, deva mudar e me deva levar. Porque será que os instantes que tanto amamos e que tanto nos dizem algo, passam tão repentinamente que mal os vivemos, mal os sentimos e continuamos na incessante busca de os repetir exactamente da mesma forma com que tudo sucedeu? Porque será que aqueles finais de tarde nos maravilhosos tempos em que a beleza de cada pôr-do-sol se esfuma e desaparece, tem de partir, tem de sumir, terá de desaparecer e nos deixar entregues à lente e triste escuridão da noite? Preferia agarrar o tempo, fazê-lo permanecer com a mesma luz, com o mesmo calor, com a mesma brisa, com o mesmo bem-estar de cada momento de felicidade...
Infelizmente tudo passa, tudo se completa, tudo parece voltar á forma inicial do círculo ainda que de modo diferente... Tudo é irrepetível, tudo passa, tudo se transforma...
Feliz de quem vive na felicidade dos momentos e os compreende... Infeliz de quem vive na ânsia do tempo perdido e na recordação dos instantes futuros... Espaços, apenas...

sexta-feira, maio 09, 2008

Contextos!

O aroma doce de um grandioso perdão, descansa em cada pedaço de oportunidade…
Nuvens de uma densa névoa de interrogações, emergem dos céus como se me viessem engolir a uma só voz, a um só grito, a um só queixume e a um só choro. Descanso igualmente com o sonho e secreto desejo de um paraíso térreo ao alcance de cada um de nós… Parece fácil…
Por vezes, acordo de manhã sem razões para o fazer, preferindo o sono continuado da noite anterior… Cheio, repleto e plenamente carregado de dúvidas, de incertezas e de um remorso inexplicável e desgastante, recuso-me a entregar o destino a qualquer preço.
Traído nas memórias, falseado pelas amargas lembranças que agora se desvendam, descubro a realidade do paraíso tantas vezes apregoado, umas vezes jovem, outras bem mais velho e em nenhum deles sem me conseguir situar. Tudo me acorrenta a um mundo que me foge, me abandona e ao mesmo tempo me engole, me digere e jamais parece querer deixar. Ambíguo, complexo, difícil de acreditar, mas pleno de sentir…
Arrepio-me, assusto-me e amedronto-me perante mais uma investida de um estranho sentir, deixando-me acobardar pelo sangue que deixo gelar e não pareço querer contrariar. Os joelhos tremem e deixam-me cair… As mãos fraquejam, transpiram e produzem ao mesmo tempo uma gélida sensação de medo perante momentos de decisão… Os passos dão lugar ao sossego…
Um mundo, um estranho mundo de uma estranha alma… a minha alma!
Mais uma vez é o tempo que circula, que emite os mesmos ciclos com que sempre viveu. Os ventos sussuram, a claridade incandeia, a escuridão protege, a terra permanece morta e as águas não se desviam dos seus cursos. Falo com os rios, cheios de sentimentos e dedicação, permaneço no silêncio ensurdecer das águas que remoinham em meu redor e me convidam a reflectir no cristalino reflexo que daqui me permito vislumbrar. Sinto-me uma extensão destas margens, sujas, corruptas e quase envergonhadas pelo leito que nelas ganha forma.
É só mais um longo e demorado processo de vida, onde os ventos sopram na escuridão, onde o pó que neles viaja me cega o horizonte, onde o silêncio me vocifera mais alto do que as simples palavras por dizer e onde o caminho de percalços em que me encontro, se manifesta repleto de promessas vãs… Nem eu sei onde me encontro...