quarta-feira, outubro 15, 2008

Espelhos!

Não são poucas as vezes em que diante de um espelho, me sinto distorcido perante o reflexo que dele sobressai. Tal como num retrato, pareço desvirtuado, assustadoramente fora de mim, alheado do meu contexto de vida e distante de uma completa descrição do meu ser…
Sinto-me ferido como se o espelho me revestisse de lâminas, me perfurasse as expressões com que me manifesto, com que me demonstro e com me dou a conhecer. Pareço querer fugir e incapaz de enfrentar a realidade… Assusto-me a mim próprio, jamais pelo meu aspecto físico, mas essencialmente pela imagem reflectida que parece sem vida, sem alma e sem qualquer fogo capaz de incendiar o coração que me mantém consciente. Talvez porque o olhe precisamente com esse mesmo coração e jamais com a mente aliada à força da razão… Talvez porque nada reconheça no meu rosto, no meu carácter e na minha personalidade...
O olhar entristece-se, o coração adormece e a mente deseja apagar-se…
Como é possível que sejamos tão diferentes aqui, tão dormentes e tão inconscientes de uma existência que se sente, que se molda e se reveste pelo nosso corpo?
Fecho os olhos por momentos e antes de recordar o que acabei de ver reflectido, concentro-me no homem que sempre fui, na pessoa que sempre viveu e agiu de acordo com os seus princípios, na criatura que sempre soube sentir e ver os outros como verdadeiros seres humanos, independentemente da sua fisionomia. Tão dura que é a realidade aos nossos olhos…
Como seria bom que os espelhos com que diariamente nos deparamos, reflectissem apenas luz, apenas cor, e tivessem a capacidade de nos aquecer, ao invés de nos fazerem reflectir e mostrar cruéis exemplos daquilo que não desejamos observar… Finalmente, abro novamente os olhos e tento sorrir! As faces definem-se e moldam-se ao sorriso, enquanto os meus lábios se esticam e produzem uma expressão de felicidade e bem-estar. Tão distante que está a realidade, tão cínica que é a imagem que dos espelhos se irradia… Quando voltar, desejarei estar bem mais equilibrado e preenchido, embora volte a não acreditar naquilo que os meus olhos me mostrarão!

3 comentários:

Pearl disse...

A distorção de uma imagem (da própria a imagem) é algo que me te deixado tambem a mim a navegar em mim, porque é disto que se trata de nós mesmos!

O que vês és tu...sempre tu, mas tu vês-te despido percebes? vês-te com "acrescentos" e sem eles tambem!

Vês-te como és na realidade, como te sentes e o reflexo que vês só é visto por ti. A pergunta que te faço é :
Quem é que recebe a imagem distorcida, tu ou quem te vê?!

Quem é que faz a avaliação do teu consciente, tu ou os outros!?

Acho que tu (e por mais que digamos que não) sabes quem és, o que precisas...

A imagem que se reflete és tu na tu essência no teu Eu, não o escondas é nele que recaí aquilo que todos os outros vêem e recebem de ti!

Beijo

(...) disse...

a meu ver... e por isso a introspecção é tão dificíl ... não conseguimos dissociar muito bem aquilo que somos daquilo que fazem de nós...

Pearl disse...

Agradeço-te o comentário pequeno sim mas muito inspirador!!


Obrigada NM!


Vem ler a minha revolta!

Beijo