quinta-feira, outubro 02, 2008

Retorno!

Denso, o arrepio que os sons de outrora me provocam e me fazem estremecer quando os oiço novamente. Sinto-me estranho e absurdamente introspectivo quando me concentro nas memórias que vivi há imenso tempo, as transponho para a actualidade da minha vida, para os exactos momentos com que agora me deparo e com isso, tento assumir o envelhecimento do meu próprio ser. É tão fútil o corpo que nos dá forma, tão mais efémero que a vida ou a implacável passagem do tempo à nossa volta… É absurdamente estranho!
Sento-me de cabeça apoiada nas minhas mãos, vendo-as maiores e mais gastas do que nos meus tempos de criança, sentido a passagem dos anos sem os agarrar, sem os poder segurar e a viver de infindáveis memórias e de saudade. Não sei se o que me custa é o recordar dos sons da minha infância, das saudades da minha meninice ou se será esta mesma viagem ao passado com todas as suas incidências, alegrias e tristezas. Ainda assim, sorrio e recordo todos aqueles que comigo privaram, que comigo se divertiram e choraram, que comigo vibraram com os primeiros tempos de vida num mundo tão difícil quanto complexo e que quase aposto que ainda sentirão as mesmas vibrações que eu.
Não foi o crescimento que me assustou, que me matou os sonhos ou que me possa ter roubado tudo aquilo que jamais quereria perder. Talvez tivesse sido o próprio passar do tempo que consigo levou os amigos a seguirem novas vidas, a traçarem metas e rumos muito próprios, a fazerem-se homens e mulheres e a deixarem tudo aquilo que de melhor existiu. É estranho o que um som, uma música ou uma melodia que era corrente no nosso tempo de miúdos, me mexe com a mente num intenso turbilhão de ideias, de confusão e de completa absorção. Parei por completo o que estava a fazer e durante um bom par de minutos, deixei-me seduzir por aquela sonoridade que me acompanhava várias vezes há imenso tempo e que agora, surgindo acidentalmente, me acompanhou como se ainda estivesse naquela época e a viver exactamente tudo da mesma forma. Contudo, as dúvidas e as questões não deixam de me surgir quando a mesma melodia termina e o falta de som se torna absurdamente cruel…
Por onde andará toda aquela minha gente com quem vivi há tantos anos, que lado a lado construiu milhentas aventuras e histórias para contar, que embalada pelos sonhos de criança se debatia rapidamente para crescer e fazia com que cada um daqueles momentos fosse especial e inesquecível? Será que o começo do fim acontece agora ou já virá há tanto tempo e só agora me apercebo? Por vezes, choro de alegria com as boas recordações… Outras tantas, choro de tristeza por não voltar a vê-las acontecer…
Há semelhança de uma foto, de uma película de filme, de um livro ou de um caderno onde rabiscávamos os primeiros desenhos, também a música assume um carácter de intemporalidade e onde quer que estejamos ou em que altura estivermos nas nossas vidas, trará sempre consigo a grata recordação de connosco ter privado e de nos ter acompanhado durante o crescimento. Onde estaria eu quando ouvi aquilo a primeira vez? Agora sei que foi aqui e neste preciso momento, que me fez parar e recordar!

4 comentários:

Anónimo disse...

Eu me emocionei com o Texto!

Pearl disse...

Tambem me acontece vezes sem conta porque as músicas são intemporais e têem a capacidadde de trazer milhentos ficheiros anexados...os nossos ficheiros!

Hoje oiço musicas que musicam a minha vida os meus momentos, a musica está sempre presente no meu presente, no futuro essas músicas serão importantes, ajudarão a minha mente a chegar rapidamente ás minhas memórias!

Não deixes que o silêncio da musica terminada te esvazie...muito pelo contrário deixa-te encher de notas e sons e vozes!elas farão toda a diferença não só agora, como daqui a muito tempo!

beijo para ti

Xinha disse...

Caindo no erro de me tornar repetitiva... adoro a forma sincera como escreves.
Consegues captar a minha atenção... fico absorvida pelo teu texto e só paro.. no fim...

Tens razão.. o tempo passa sem que nada possamos fazer para o prender a nós. Existem melodias, objectos que nos fazem recuar no tempo.. e durante alguns minutos é bom sentir a nostalgia a invadir-nos...

Vive cada momento como se não houvesse amanhã.. porque se pensarmos bem.. o amanhã já passou ...

Xi-coração

Anónimo disse...

Olá...
Agradeço pela visita no meu blog e espero sempre vê-lo por lá... Sou muito sentimental em tudo o que faço até mesmo na hora de escrever...
Enquanto ao seu texto lindo também viu, cheio de lembranças e sinceridade, ah, música tem um poder incrível sobre mim, e o tempo então, este passa tão depressa... mas as coisas boas do passado sempre ficam e retornam pra dar mais sentido ao nosso presente.

Beijos!!!