quarta-feira, outubro 26, 2005


Ventos !

Na escuridão, no medo e nas trevas do silêncio, bem próximo do sono profundo, vivo e alimento um sonho. Invoco-o, alimento-lhe a alma e contorno-lhe o espírito, da mesma forma que os veleiros rasgam as águas e dominam os ventos. Pareço ouvir o cantar de anjos neste sigiloso descanso. Repouso num lugar bem para lá do Sol, através de um céu límpido de ruidos e impurezas, encontrando apenas um pequeno caminho luminoso por entre uma escuridão funesta e hedionda.
O meu sonho, assemelha-se a um sussurro, a uma luz de vela ou a um pequeno feixe brilhante que apesar de insignificante, liberta um fluxo tão radiante e intenso que me permite expandir, alcançar e ser observado sem que me dê conta disso. Olho no seu interior, vejo os tumultuosos e desordeiros ventos que o alimentam e sem me deter, acredito cegamente que serão ventos de fortuna, de mudança e de orientação. Deixo-me levar, voar e levitar para bem longe...
Elevo-me para lá de um arco-iris de cores reduzidas e direccionadas, procurando apenas a cor cintilante do ouro a que me proponho obter. É lá, que encontro o início de uma estrada, onde qualquer outro iria terminar, para relançar a minha essência e dar continuidade a algo que não consigo aceitar como um fim prematuro. Contudo, é também aí que os ventos se confudem, misturam e colidem, fazendo com que me arraste, não consiga curvar nem ter força suficiente para manter a minha linha recta de um modo firme e imutável.
Aguardo por estrelas cadentes, por novos objectivos para acumular e iluminarem o meu caminho. Deixo que a minha vida se escreva neste tornado, em nuvens acima e nuvens abaixo, deixando o vento ocupar o meu céu e poder empurrar toda esta nebulosidade que tanto me prejudica. Quando assim acontecer, terei o caminho desbravado, solto e livre para caminhar de encontro aos meus sonhos, tendo a certeza que dias de tumulto ou demasiado radiosos, não resistem nem se fixam eternamente.
Cerro ainda mais os olhos, novamente em busca das minhas aspirações e sentimentos, sentindo apenas a leve brisa dos meus ventos utópicos e de desvario. Imagino, acredito e alcanço, não só por mim ou pela vontade própria de me controlar, mas porque as direcções a que sou muitas vezes vetado, induzido e pressionado, também me incapacitam e precipitam decisões. Sonhemos e deixemos que os ventos, por nós decidam...

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