segunda-feira, abril 26, 2004

Hermético !

Estranho este invólucro que me movimenta, me dá forma e guarda o meu íntimo... Reparo nele como nunca e a cada curva, cada forma e cada textura, me assusto pela forma agressiva e gosseira com que ele me torneia...
Percorro-o com um simples tocar, leve como uma brisa presente... Toda a minha nudez é sentida pelo suave tacto das falanges. Em todos os pontos encontro imperfeições, pontos que mudaria em busca de uma perfeição não muito diferente, mas mais consistente e mais agradável a olho nú.
Reparo nos pormenores dos dedos, nos vergões da pele provocados pelo dobrar dos ossos,no esqueleto que me dá forma, parecendo rasgar a pele e querendo soltar-se da carne que o veste...
A brutalidade dos meus pés... Apesar de pequenos, acho-os feios, tristes e mal feitos. Tenho de os dobrar, juntando os dedos para os achar mais agradáveis e apetecíveis.Gosto do pormenor dos tornozelos, parecendo equilibrados pelos ossos que o compõem, pela curvatura do calcanhar e pela maleabilidade dos tendões...Subo as pernas com o meu toque... Páro tocando e sentindo os joelhos. As rótulas salientes moldam-se consoante me vergo e as movimento. Sinto-as alterarem a forma por entre um aspecto arredondado e outro mais geométrico, mais directo e tridimensional. Algo extremamente rude e dantesco...
Adoro a parte superior, a suavidade das coxas, a rigidez dos músculos, as nádegas firmes e macias. A ausência de algo duro, faz-me gostar desta anatomia semelhante a algo invertebrado. O sexo deixa-me confuso, parecendo ter sido enxertado posteriormente, como se não fizesse parte de mim. É demasiado absurda a textura e a forma que o compõe. A pele dura e enrugada do escroto, assemelha-se a um excesso de algo que não consigo descrever e forma da glande apesar de artística, não deixa de o ser pelo fim a que se destina...
Gosto do pequeno botão situado no ventre... Algo muito mais, que um símples orifício ou razão estética, foi por ele que me desenvolvi, estando ligado na mais mágica e bela parte do meu desenvolvimento. Fica-me bem !
Os mamilos circundados por um círculo rosado, conferem-me altivez, personalidade e mesmo sensualidade. Senti-los e olhá-los no meu peito saliente, dão-me confiança e uma espécie de orgulho... Talvez doentio, talvez demente, talvez inusitado !
Sentir os braços, saindo-me dos ombros e assemelhando-se a dois ramos, movimentando-os a cada indicação do meu cérebro é algo único... Parece impossível conseguir mover algo com este comprimento, de certa forma pesado, suspenso e no fim ainda sentir e contorcer mais cinco pequenos membros, alternadamente, ao sabor daquilo a que me propuser e ás necessidades que me ocorram...
O que se situa acima deste tronco, é talvez a mais engenhosa peça, escondendo mistérios, ocultando ou salientando tudo aquilo que se sinta... Não a consigo descrever... Tudo parece perfeito, imperfeito, mas a utilidade e características próprias, deixam-me sem palavras para qualquer julgamento...
Tudo nesta anatomia que me compõe, se distribui pelo útil e pelo estético. Há que ser racional, encontrar o equilíbrio e perceber o porquê do interior não descurando o vísível... Entendendo o sentido de manchas, pormenores, vergões, saliências, pilosidades e até mesmo o odor humano libertado pelas toxinas que o fomentam...
Descubro-me lentamente num corpo herméticamente fechado, agressivo, feio mas ainda assim com um sentido e uma razão totalmente lógicos !

sábado, abril 17, 2004

Erótica...

Dispo-me de preconceitos e arrasto-me pelo sabor do teu corpo... A infinidade do desejo, do prazer e da procura, saciam a mais pura vontade de te consumir, de te possuir e absorver pelo gozo da carne. Terás um preço, uma oferta, algo bem elevado para me cobrares, por esse gesto nobre e em muito apetecido.
Somente direi que é simples atracção e desejo carnal de nos entregarmos. Perde-se o encanto do verdadeiro amor, porque nada mais existe que não seja um simples contacto. Não nego o prazer que sinto quando nos consumimos, quando entro em ti e pareces feita de um dilúvio doentio, pedindo-me mais e exigindo melhor... Parece irreal, sarcástico e mesmo demente. Fazê-lo por fazer não me atrai, não me faz sentir mais homem nem mais realizado.
Simplesmente alivio a vontade que o subconsciente me pede, descarrego a energia que o meu corpo necessita para se sentir bem, mas a frustração que advém é depressiva. Sinto-me bem, mas pouco satisfeito...
Visto e cubro a pele novamente, como se tivesse o serviço feito e me apetecesse sair desse ambiente o mais rápido e discretamente possível. Viro as costas, deixo-te prostrada depois de te usar e teres sido o meu utensílio para algo que buscava. Feliz, realizado ? Claro que não...
Não senti que houvesse algo sincero ou sentido. Foi o prazer do momento e sem pensar, fomos cedendo a uma vontade proibida de algo irracional e estranho. Foi bom para mim, mas não me importo contigo. Se te quisesses aproveitar e abusar de mim, poderias tê-lo feito. Foi para isso que nos submetemos a algo tão baixo e irrisório apenas para satisfação pessoal e nada mais. Também sei que para ti nada contou. Pagámos uma espécie de serviço a ambos com um simples copo, uma troca de olhares e uma forma telepática de pedirmos algo... Concordámos dessa forma pouco ortodoxa e sem regras, aceder a esse produto que cada vez mais se procura, mais se exige e mais se pretende. Gostaria de pensar de forma diferente, mas rendo-me ás evidências...
Basta-me sair á noite para encontrar respostas ás minhas dúvidas.
As ruas tresandam, o ambiente respira e alimenta-se de prazer e as noites evidenciam tudo isso..
Preciso de me estabilizar emocionalmente. Preciso sentir que não é só e apenas esse o sentido e a busca incessante na vida. Preciso encontrar o equilíbrio no amor, e nele descobrir as diversas formas de amar, de o fazer com sentimento, entregando-me realmente e sem receios, onde seja entendido e desejado.
Aí mostrarei verdadeiramente o que está para além do meu corpo. Aí, não só me despirei de preconceitos, mas soltarei um conjunto de sentimentos como uma dádiva, um sentimento de entrega e de verdadeiro prazer. Serei então feliz por receber, mas mais ainda por saber que me entrego na totalidade...
Sentirei prazer, sentirei o que é o amor...

quarta-feira, abril 14, 2004

Isolamento perfeito !

Por vezes ligo-me ao mundo, para recordar o teu rosto, lembrando-me no quão bela a maquilhagem te transforma e te faz tornar na Deusa guardiã dos meus encantos...
Única no teu género, conheço-te inteiramente, sei que o sabes... Ouve-me !
Quantas mentiras foram feitas com confidências, promessas...? Talvez essas mesmas mentiras não façam sentido e tenham sido inocentes...
Ainda assim, sou o único que sorri, que gosta de te ouvir... Sou a voz que te mantém quente, o abrigo para os teus medos. Estou a teu lado sentindo as emoções e nunca desistindo. Desculpa, mas não deixo de ser e pensar assim. A tua existência deixa-me mais forte e faz de mim um homem mais sensato e imune a certos males. E pergunto-me, sistematicamente pergunto-me o porquê de tudo isto? Quando choras, choro contigo, quando sorris, sorrimos ambos, se te sou próximo, porque te sou indiferente ?
Ouves-me ? Falas comigo ? Ninguém parece ouvir a minha prece. Oiço vozes, vozes silenciosas de sombras dançantes pelas paredes. Escondo-me perante a mente, quando as nuvens ocultam a claridade e a luz que me acompanha esmorece... Aqui repouso, num isolamento perfeito. Ouve-me chorar, neste recanto ... Depois de tanto tempo a tentar esquecer, continuo a olhar sobre os ombros e todas estas vozes interiores,silenciosas,continuam a fazerem-me pensar neste local onde me escondo...
Ouve-me chorar, sem lamentar, mas sente que ainda vivo...

Destino...

Quem guarda um segredo?
Quem premedita o destino ?
Quando irei descobrir...
Que mentiras pairam sobre mim ?
Quem carrega este conhecimento...
Para me dizer no futuro
Tudo o que pretendo saber ?

Por isso me levanto...
Por isso grito ao mundo
A razão do meu ser...

Sinto os poderes fora de alcance
Volto a tentar do início...

O destino chama-me...
deixando o futuro em aberto
Gritando com raiva...
que os poderes me fogem
e absorvem em concreto.

Seguro a alma com as mãos
O Futuro é cada vez mais passado...
Sem luz e mal encadeado...

Quem me iluminará o caminho?
Agora que luto sozinho...
O passado persegue-me
O amigo é inimigo...
O medo, meu vizinho !


Noites de lua cheia...

Sonhos, estórias e contos de lobos... lobos que se vestem de pele humana e se consomem perante reconditos lugares da nossa mente. Lobos que são homens, que buscam a carne e recusam ver a luz que os cega e lhes permite apenas ver a infindável e abominável sensação de ódio e desespero. Buscam algo para lhes colmatar o vazio...Vazio esse que lhes assola o interior e os torna sequiosos por um banquete mórbido, doentio e puramente divinal. Deixam de lado a existência humana, vestindo uma máscara possessa de um misticismo crú, assustador, mas ainda assim extremamente apetecível. Muitos insistem em não rasgar essa pele, insistem em ser lobos, mas jamais o tornarão a ser. Trevas de lua cheia, doces, azíagas, vetadas a um cenário dantesco e perante um mesmo céu são deixadas ao acaso. Deixam que a transformação ocorra e com ela tudo lhes dê na mais completa razão de imortal,surreal mas carregada de simbolismo e razão de ser. Buscam o sangue perante um uivar, um sinal de alerta, de presença de espírito, para que sintamos que não são apenas vozes de animais, mas gemidos e gritos de uma dor e raiva interior que em tudo são humanos. Sonhos de memórias de lobos que rasgam a pele, esperam pela carne e recusam a luz que os cega, os detém e os proibe de se elevarem a um estado superior. Talvez sejam memórias de homens, que tentam ser lobos, mas nunca o conseguirão ser... Debaixo do mesmo céu dessa lua cheia, encontramo-nos todos... Lobos, humanos ou simples criaturas de Deus, mas aquando da necessidade de nos soltarmos, rasgarmos ou abrirmos o nosso corpo porque não o suportamos,o fraco nível da nossa força interior leva-nos a um ínfimo crepitar de dúvidas e a um altar elevado que tanto prazer nos dá... É nesse altar, perante o cenário assombroso da lua cheia que nos sentimos bem, que nos disfarçamos e nos permite sequiar os nossos prazeres. Ensinar-te-ei maravilhas, se depois dessa libertação atingires o pecado, me entregares a alma... Dar-te-ei um mundo de sonho, de possessão e libertação... Ensinar-te-ei como transformar qualquer vil metal no mais precioso ouro e como a vida se estenderá rumo á imortalidade e á indiferença... Liberta-te e perante um uivar assustador tendo a lua como testemunha, serás enorme...

terça-feira, abril 13, 2004

Partida !

Talvez numa outra vida te possa encontrar, ser arrastado antes do tempo...
Não conseguir entender, pela dureza, injustiça e parecer que o paraíso se encontra tão longe distante e inalcançável... Todo o meu mundo gelou e desmoronou com a tua ida...
Talvez as flores ainda demonstrem a minha preocupação, carinho e lembrança. No entanto, não serão elas que me irão devolver tudo aquilo que me foi retirado e perdido. Ergo as mãos, alcanço os céus e grito o teu nome, mas acredita que se tudo isto pudesse ser trocado, não hesitaria um só segundo...
Parece que o paraíso se encontra impossível de atingir agora com a tua ausência. Mete-me nojo este mundo em que tropeço e cambaleio sozinho, porque não tenho o teu apoio nem a tua presença...
Erguer os meus braços bem alto, tentando aliviar a minha dor e desespero numa sentida homenagem, não faz sentido. Apenas me aguça a ferida e o sofrimento em que me encontro. Nada parece justo, nada parece fazer sentido, nada mais existe agora que não estás comigo...
Ainda assim, dentro das minhas fraquezas, encontro a força suficiente para me levantar, curvar diante de ti e lembrar com saudade a marca deixada no nosso espaço, enquanto estivemos juntos... Obrigado pelas maravilhosas memórias !
Voltando...

Sentindo a víbora que cresce no teu interior, procurando lamentar o erro passado, compensando com poderes inatos e subtis, uma forma de atenuar e corrigir tudo aquilo que te atormenta... E pergunto, será que perdoo ?
Prometo um milagre, algo acontece sem consigar explicar... É sagrado, santo para ser colocado em palavras, para ser escrito, mas está cravado sobre a escritura, sobre o destino... É o meu dever, sinto-me missionário. É a minha confissão, uma obsessão, sou um crente praticante e um seguidor confesso... É uma escolha, um principio, religião sem dúvida, um sentimento divino de um confesso devoto. Vendo e dou a minha estória á eterna glória do amor, ao sentimento, a algo em que creio, sigo e acredito. Não mudo porque deseje, ambicione ou sinta essa necessidade, mas porque acima de qualquer utopia, terei algo em mim que forçosamente há-de ser preenchido, para que me encontre e reequilibre. Espalho a boa nova pelo mundo, por quem está comigo e me acompanha, pensando em gente, em pessoas, em rapazes, raparigas, homens, mulheres, velhos, crianças, e todos aqueles que demonstrem características próprias de seres humanos. É por eles que me dou, espalho e lanço com júbilo os meus ideais e o meu poder interior, na ânsia de tentar com um fraco feixe de luz, conseguir trazer uma incandescência perfeitamente visível e sentida. Pela glória eterna do amor, pela vontade de o escrever, de o sentir, de ser o meu dever... Sou um missionário, um simples observador, um mero servo do divino, a quem por responsabilidade e iniciativa própria, demonstra um estado de crença e um permanente viver sob solo sagrado. Acima de tudo, um crente contínuo !

quinta-feira, abril 01, 2004

Espectros...

... e amanhã, acordarei perante a satisfação de ver os meus olhos vendados ao mundo e descobertos apenas na tua direcção. Amanhá, será que acordarei para que dos meus lábios se escapem as palavras que te quero dizer, perante a timidez do meu interior ? Apenas sei que amanhã acordarei com um sentimento de te pertencer, de sentir que sou a parte final de um conjunto de peças que aos pouco foste construindo... Amanhã sei que irei acordar para corrigir tudo o que estiver errado em mim, em ti e em nós...
Será um estremecer e um despertar de um ouro perfeito, de um dourado volátil que se funde e na textura da sua forma, conseguir encontrar pigmentos sólidos de uma riqueza e um valor incandescente que nos envolva e torne valiosos... Tudo isto para seres em mim, tudo aquilo que há muito desejo, provo e saboreio. Sei que amanhã, quando acordar irei tentar tudo para não ficar novamente sozinho, perdido e descompensado. Sentar-me-ei neste estado interior e desistirei de ser o principal suspeito de uma rotina doentia, mórbida e inexplicável...
Os meus olhos vendados ao mundo, causarão a morte desta abrangente cegueira e os primeiros raios de luz visíveis, serão aqueles emanados por ti, despertando-me na retina algo cromático e perfeitamente decifrável...
Amanhã pedirei para reagir, finalmente poder sentir, uma vontade natural, de me sentir diferente, talvez artificial...
Amanhã, será que irei acordar ? Claro que sim, desde que a tua luz me acompanhe... Ilumina-me !