Hermético !
Estranho este invólucro que me movimenta, me dá forma e guarda o meu íntimo... Reparo nele como nunca e a cada curva, cada forma e cada textura, me assusto pela forma agressiva e gosseira com que ele me torneia...
Percorro-o com um simples tocar, leve como uma brisa presente... Toda a minha nudez é sentida pelo suave tacto das falanges. Em todos os pontos encontro imperfeições, pontos que mudaria em busca de uma perfeição não muito diferente, mas mais consistente e mais agradável a olho nú.
Reparo nos pormenores dos dedos, nos vergões da pele provocados pelo dobrar dos ossos,no esqueleto que me dá forma, parecendo rasgar a pele e querendo soltar-se da carne que o veste...
A brutalidade dos meus pés... Apesar de pequenos, acho-os feios, tristes e mal feitos. Tenho de os dobrar, juntando os dedos para os achar mais agradáveis e apetecíveis.Gosto do pormenor dos tornozelos, parecendo equilibrados pelos ossos que o compõem, pela curvatura do calcanhar e pela maleabilidade dos tendões...Subo as pernas com o meu toque... Páro tocando e sentindo os joelhos. As rótulas salientes moldam-se consoante me vergo e as movimento. Sinto-as alterarem a forma por entre um aspecto arredondado e outro mais geométrico, mais directo e tridimensional. Algo extremamente rude e dantesco...
Adoro a parte superior, a suavidade das coxas, a rigidez dos músculos, as nádegas firmes e macias. A ausência de algo duro, faz-me gostar desta anatomia semelhante a algo invertebrado. O sexo deixa-me confuso, parecendo ter sido enxertado posteriormente, como se não fizesse parte de mim. É demasiado absurda a textura e a forma que o compõe. A pele dura e enrugada do escroto, assemelha-se a um excesso de algo que não consigo descrever e forma da glande apesar de artística, não deixa de o ser pelo fim a que se destina...
Gosto do pequeno botão situado no ventre... Algo muito mais, que um símples orifício ou razão estética, foi por ele que me desenvolvi, estando ligado na mais mágica e bela parte do meu desenvolvimento. Fica-me bem !
Os mamilos circundados por um círculo rosado, conferem-me altivez, personalidade e mesmo sensualidade. Senti-los e olhá-los no meu peito saliente, dão-me confiança e uma espécie de orgulho... Talvez doentio, talvez demente, talvez inusitado !
Sentir os braços, saindo-me dos ombros e assemelhando-se a dois ramos, movimentando-os a cada indicação do meu cérebro é algo único... Parece impossível conseguir mover algo com este comprimento, de certa forma pesado, suspenso e no fim ainda sentir e contorcer mais cinco pequenos membros, alternadamente, ao sabor daquilo a que me propuser e ás necessidades que me ocorram...
O que se situa acima deste tronco, é talvez a mais engenhosa peça, escondendo mistérios, ocultando ou salientando tudo aquilo que se sinta... Não a consigo descrever... Tudo parece perfeito, imperfeito, mas a utilidade e características próprias, deixam-me sem palavras para qualquer julgamento...
Tudo nesta anatomia que me compõe, se distribui pelo útil e pelo estético. Há que ser racional, encontrar o equilíbrio e perceber o porquê do interior não descurando o vísível... Entendendo o sentido de manchas, pormenores, vergões, saliências, pilosidades e até mesmo o odor humano libertado pelas toxinas que o fomentam...
Descubro-me lentamente num corpo herméticamente fechado, agressivo, feio mas ainda assim com um sentido e uma razão totalmente lógicos !
segunda-feira, abril 26, 2004
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