sábado, maio 29, 2004

Despojos de vida !

Pelo vazio do momento, em que nem a mais ínfima gota de sangue parece fazer sentido, sento-me de cabeça baixa, ocultando o rosto de olhares provocadores e necrófagos, deixando que a pureza das lágrimas me lavem os dois lados da face e me corram pelo peito, purificando um coração duro e corroído pelo interesse de outros.
O suor, é o resultado físico de um calor artificial. Calor esse que me sai dos poros através de um batimento acelerado, estranho e descompassado. Talvez seja da raiva, do desespero e da vontade em libertar o ódio e o rancor. Olho as palmas das mãos, molho-as com a secreção do meu olhar e virando-as do avesso, aperto-as fortemente, como se esmagasse e libertasse uma fúria que tanto desejo soltar...
Interrogo-me continuamente, sobre a dimensão da vida, da utilidade do corpo, da utilização da mente. Não sinto honra, desejo ou algo grandioso... Limito-me a pisar despojos de uma guerra interior, sentida, absorvida, gasta e em nada saudável.
Água benta que me percorre o rosto, lavai e purificai-me o ego, trazendo-me o objectivo porque tanto ambiciono, sem o conseguir sequer identificar ou distinguir. Quem sabe, se sentir o sangue que me fervilha sobre a pele e o derramar por uma causa, possa atenuar e compreender.. Talvez uma pedra jazida sobre o cadáver, não seja desonroso nem sinal de fraqueza ou impotência. Talvez um sinal de uma força sobre-humana para a aguentar, sobre o corpo morto, gasto e usado pelas amarguras, pelo sofrimento e pela falta de auto-confiança e amor próprio... Ser o mais forte, sim... Até neste sentido sei que o sou !

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