quarta-feira, maio 26, 2004

Respostas

Levantei-me cedo... Quis estar longe de tudo, de todos e apenas concentrado em algo que nem eu sei sequer precisar. Vim até ao mar, junto a uma falésia com uma imensa costa escarpada, parecendo o limite, o fim de tudo ou o começo de algo...
Dentro do meu carro, observo o horizonte. Por entre sonoridades condizentes comigo e neste vazio, acendo cigarros, parto e queimo pedaços de "sabão" que já havia trazido... Consumo este ambiente mórbido, solitário e olhando a imensidão diante de mim, reajo negativamente a qualquer intenção de pensamento concreto e definido. O fumo consome-me e absorve-me ao ponto de adensar ainda mais a cortina diante de mim...
Vou para fora, sentando-me no capot com uma perna esticada e a outra flectida.Componho a gola do meu blazer enquanto procuro a melhor posição para ficar e me sentir confortável... Sinto salpicos no rosto, parecendo uma mistura de pequenas gotículas de maresia com a humidade da neblina. Sabem-me bem, parecendo inclusivé lavar-me a cara e levando-me a acordar, despertando um pouco.
Estranho tudo isto... Nem sei o que faço aqui, o que procuro, o que espero encontrar ou a principal razão de me encontrar neste sítio. Apenas sei que foi este local o escolhido e em nada me arrependo. Tudo é perfeito ao meu redor, para me sintonizar, meditar, buscar uma paz e um sossego interiores sem que pense no turbilhão de confusões em que a minha mente consciente se encontra.
Para turbilhão, raiva e excesso de força, basta-me olhar para baixo, ver a violência com que as marés chocam nas rochas e como se partem e destroiem, juntando-se logo de seguida ... É magnífico observar o espumar das ondas, como se demonstrassem rancor e ódio por quebrarem logo ali... Voltam contudo atrás, de novo se juntam e voltam a insistir violentamente... Dantesco, incompreensível mas muito, muito belo. A forma como as gotas de espalham e desfragmentam, muitas delas vindas de encontro a mim parecem-me dar a resposta que tanto quero. Talvez sem saber e sem pensar, tenho sido a principal razão de estar aqui. Se calhar, é neste ruidoso sossego que estão escritas as minhas soluções... Talvez deva ser assim... Violentando-me de encontro a algo, querendo ultrapassar essa barreira e com a explosão, desintegrar-me para me juntar em seguida. Parece que este egocentrismo termina aqui e me leva a meditar sobre a principal razão do meu núcleo impenetrável.
Olho em redor mais uma vez. Ao longe, os primeiros raios de sol rompem o dia, parecendo incendiar o imenso oceano. O vento gelado bate-me impiedosamente no rosto, assobiando-me incessantemente aos ouvidos, parecendo dizer "acorda... acorda".
Para trás não quero olhar... Sei que foi de lá que vim e para onde irei quando este encanto provisório terminar. Seria bom demais parar o dia... Não deixar que amanhecesse totalmente, que não viesse a tarde, nem chegasse a noite... Por mim, o tempo poderá passar, mas agarrar este momento, não o deixar avançar, seria transcendental... Por detrás de mim, sei que está a escuridão, o medo e tudo aquilo de que quero fugir. Lado a lado, apenas efeitos colaterais que me vêm atingindo e em suma, terei de estar preparado. Debaixo, parecem chegar e vir até mim as decisões, as respostas e os abanões que preciso sentir... Erguendo o olhar e vendo em frente, os objectivos, a vida, o interesse e a imensidão diante dos meus olhos. Nada melhor que os raios de sol reflectidos, para me iluminarem o caminho que terei de seguir, nessas águas turbulentas e agitadas em que me receio afogar e devo aprender sempre que baterem debaixo de mim.
Volto a entrar no carro... O encanto que tanto me fascinou está a terminar. O dia começa a ir alto e pelas regras impostas, há que voltar e continuar... Não quero, mas nada posso fazer...
No entanto, sei que é aqui, neste local, neste sítio, nesta área abrangente á minha volta que estão grande parte das minhas decisões... Em breve irei voltar !

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