quinta-feira, maio 13, 2004

Portugal !

Saudosa Lusitânia... Tão grandiosamente erguida por heróis antigos, tão piamente denegrida por pensadores de um tempo actual, cuja atitude se tinge pela cor de um orgulho estúpido, pela fama consequente e pelo poder conquistado por formas obscuras e puramente egoístas.
Terra-mãe que chama por mim, pedindo-me e implorando com uma força nunca vista, por entre as feridas que há muito brotam do seu interior,que a salve e lhe devolva a grandiosidade que a compõe, que a veste e a caracteriza. Sinto que ela vê em mim um filho pródigo, uma pureza leal como ela... Sente o peso do meu corpo unido ao seu chão sagrado como raízes embutidas por entre as pedras da sua superfície.
Fala-me em cores, texturas, cavidades e formas, muitas delas imperceptíveis, mas sei que ao mesmo tempo são minhas, como algo a defender e a perservar e pelas quais orgulhosamente faço questão de exibir e salientar. Filho único talvez, não pela escassez de irmãos de sangue, que a pisam, a habitam e fazem dela um tapete a ser usado, mas por lhe estar intimamente ligado, quase sentindo-a chorar, perante um olhar tímido e envergonhado com que me mostra os buracos e os cortes no seu tecido.
Sinto-a como um mistério, algo mais que matéria orgânica composta por granito, areia, húmus ou pedaços de manta morta e apodrecida... Em cada pedaço, existem estórias, contos, lendas, tempo, velhice, juventude, seres vivos e não vivos, vida, morte, água, sangue... Tudo isso se nota pela erosão bem revelada pela antiguidade que a descobre. Pareces erguida num trono antigo, em que me sento e desafio quem nos rodeia, em que me ajoelho e te presto homenagem pela singularidade e permissão de fazer parte de ti. Talvez seja teu filho, teu único filho, meu doce e enigmático mistério, mostrando ao mundo que talvez esteja sozinho na minha crença. Chamo-te Mãe, pela vontade de te defender, exibir com orgulho, pelo brio e vontade em te vestir e pela qual gloriosamente irei morrer. Em ti nasci, em ti vivi, em ti quero ficar e permancer enquanto o permitires e quando nada mais me restar, apenas desejarei usar o teu chão sagrado como leito para um corpo cansado e fraco de evocar o teu nome.
As ondas que te batem, clamam e uivam com grandiosidade o teu nome... É a única forma do mar poder dizer que as lendas do orgulho lusitano há muito partiram e pela sua música de encontro ás rochas, canta e afirma tudo aquilo que sei, me enojo e não me atrevo a retorquir. Pelas montanhas, lobos choram pela glória antiga que se estingue e se sente desaparecer...
Talvez seja teu filho, talvez sejas um mistério, talvez tudo isto seja conspiração por algo pouco palpável... Pareces-me Deus, algo sagrado em que tudo o que te compõe é belo demais para existir e impossível de verdadeiramente tocar.
Lamento a tirania, a densa floresta de inconsciência que te criámos e a imensa ignorância com que há algum tempo te brindamos...
Por ti me orgulho, por ti te defendo e por ti luto, erguendo-te ao nível mais alto das terras, ao mais alto nível do Mundo...
Amo-te pátria minha !

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