Morte-viva.
Ver-te-ei nos meus sonhos, entrarás neles de uma forma proibida, horrenda e assustadora... Abraçar-me-ás com o teu corpo putrefacto e com o medo, simplesmente me poderei deixar levar. Pela aldeia, os mortos descansam, os vivos receiam e as estranhas criaturas entre nós, deambulam e cambaleiam vindas de todo o lado.
Apenas tu nos poderás livrar delas, eliminando-as e restituindo o sossego e a paz em tanto desejada. Só aqui, no nosso recanto nos sentimos bem e protegidos. Justamente aqui, ninguém entra sem permissão de nós mesmos ou da pura vontade de quem quer estar connosco. Não te quero, não te agradeço, porque também te odeio e em nada me trazes de bom. Soas-me a um mau prenúncio, a um medo legítimo pela figura que ostentas e isso deixa-me sem pinga de sangue. A mesma falta de sangue dessas criaturas que connosco co-habitam e há tantas gerações fazem parte do nosso imaginário real.
Que fizeste tu, a uma cara-metade que te compunha, te vestia e não deixava a descoberto a tua pele irrascível de sentimentos e nobreza ?
Foi a tua falta de amor, de afecto e excesso de frieza que a levaram a procurar outros caminhos, novos desenlaces e a um preenchimento colectivo que nunca lhe proporcionaste.
Se a substituiste pela morte, é credível que te venha buscar, venha ter contigo e te cobre aquilo que lhe é inteiramente justo... Porém e apesar da morte que a acompanha, está bem viva. É na monstruosidade da imagem que foi construindo e se moldando em seu redor, por tua pura e única influência, que sente ciúme, não te perdoará e muito menos a quem te acompanhar.
Procuras agora, o mesmo amor que não deste, nessa primeira que te apareceu e é com ela que incitarás a vingança e o desejo de cobrança! Entrega-a quando estiveres diante deles, porque a alma que te veste e mantém, é podre e de nada poderá valer.
Procurarás o mesmo refúgio, o mesmo recanto para te protegeres, mas será tarde...
Negar-te-ei a entrada, para não provocar em ti o que tantas vezes fizeste noutros e deixarei que eles se regozijem contigo, te consumam e te deixem fazer parte deles.
É contudo o teu mundo, meio vivo, meio morto, porque mesmo humano, nunca senti que fizesses parte de nós... É justo que nos odeies !
quinta-feira, maio 27, 2004
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