segunda-feira, dezembro 31, 2007

Até... 2008 !

Até quebrares, até queimares, até mentires, até aprenderes, até saberes olhar e acreditar, até conseguires lutar, caires, até ao fim de tudo... Seja até morreres, enquanto viveres, até te conseguires salvar e me proteger, talvez porque não nos importemos...
Talvez seja até darmos, até deixarmos de ser usados, de estarmos perdidos, de perdermos, de realmente vermos e mais uma vez acreditarmos...
Talvez até vivermos iúmeras vezes, conseguirmos ver o outro lado, termos as nossas hipóteses, as nossas chances, sem salvações ou redenção... Quiçá, seja apenas até a verdade ser mentira, até negarmos, acreditarmos de novo, aproveitando agora e tão somente porque o conseguimos e o desejamos com mais força, com mais veemência e no fundo, nem nos parece que importe...
Até... mais um ano!

domingo, dezembro 30, 2007

Mentiras...

Deitado durante a noite, acordado pela madrugada, pensando na própria vida, quase perguntando ao ego, o quão quero ser diferente...
Quase tentamos que a verdade se solte, que regressem batalhas e desafios de outros tempos, sentindo agora que tudo não passa de um jogo, de casualidades dispersas, de estranhas coincidências que aos poucos se desvendam e nos mostram novos percalços, trajectos e ao mesmo tempo finais de linha tão assustadores como quase impossíveis de remover. Parece tudo uma mentira, uma doce e estranha mentira, uma forma perfeita de sentirmos a negação em tudo o que necessitamos, como uma porta que desejamos que se abra e ao mesmo tempo nos mostra a ausência de dobradiças que se movam e mais se assemelha a um muro intransponível.
Acabamos por acreditar, por crer nas pequenas estórias que nos surgem, vivendo delas, engolindo-as sem perdão, sentindo-as sufocarem e quase nos matando...
Torna-se belo de tão feio que nos pareça, pela acomodação, pela aceitação, pelo tempo do passado que não esquecemos, pela fraqueza de as receber e fazer delas o melhor exemplo de força para seguir... Talvez tentássemos lavar o que de tão sujo se torna, talvez fosse bom que nos escondêssemos na vergonha dela própria, mostrando um coração escondido por um rosto vazio, não perguntando sequer sobre as incidências de uma cobardia tão baixa quanto indecente.
São apenas jogos, onde todos nos parecem olhar em círculos, onde todos cometem os mesmos erros, onde todos constroem os mesmos edifícios de ilusão e de ficção doentia...
Acredito apenas que tudo isto não passa de um jogo... Um sujo, desonesto, mas belo jogo!

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Frio!
Sinto-me gelado...
Não só pelo frio exterior que me causa uma estranha sensação de atrofiamento, como também pelo coração parco em sentimentos, de sensações e de uma pequena chama de amor capaz de me aquecer um pouco. Há muito que a solidão parece fazer parte deste quotidiano, vivendo para mim num clima de egoísmo e de excesso de precauções. Aos poucos, a vontade de me tornar mais independente da vida, consome-me e corrói-me por cada tombo que inevitavelmente não pareço evitar. Sozinho, sinto-me infeliz pela fraca esperança de me virar num percurso tão sinuoso quanto imperceptível... Acompanhado, perco-me na quantidade das dádivas que o meu coração não consegue deixar de entregar...
Estranha complexidade destes dois mundos em que vivo e que eu próprio criei. De um lado, o meu lugar introspectivo, solitário, demente, triste e vazio... Do outro, um espaço mais amplo, solidário, simpático e caridoso, mais preenchido e aparentemente feliz. Parece fácil escolher entre a ambiguidade destes dois polos, contudo a razão entre o ser e o parecer, leva-me para lá do horizonte e faz-me ficar alheado de ambos. Sozinho, imaginava que faria o que bem quisesse, o que bem entendesse e conseguisse comandar a minha vida. No entanto, é uma paz demasiado podre e sem sentido... Acompanhado, sigo atrás dos outros, trilhando algo que não sei se gosto, não sei se quero e muito menos crendo que seja o mais correcto. Se por um lado vivo num egoísmo exacerbado, por outro, é o altruísmo que me mata...
Lamento que neste gelo onde me encontro, não seja possível encontrar uma balança de pratos iguais, com medidas exactas e com um fulcro perfeito, capaz de me dizer a forma correcta de me saber situar...

quinta-feira, novembro 29, 2007

Estados!

É bastante curiosa, a forma de estar do ser humano...
Não me sinto sociólogo, psicólogo ou sequer um estudioso da mente humana, mas por experiência própria, única e muito pessoal, acredito que as pessoas ao longo do tempo e apesar de mudarem um pouco consoante as suas vidas, jamais deixarão morrer tudo aquilo de que na realidade são feitas. Hoje por exemplo e sem qualquer pensamento mais intenso ou profundo que aqui possa relatar, sinto-me capaz de falar um pouco sobre isso e no final de tudo, acaba por ser e na realidade, o resultado da minha própria vivência.
Dei por mim há tempos a querer deixar de escrever, não só pela falta de tempo, mas também por uma inspiração apagada e uma falta de vontade em fazer algo. Senti uma espécie de cansaço de pensamento, de ideias, de conceitos, de posturas e de visão mais abrangente em relação a um mundo mais lato do que restrito. Era algo estranho, que parecia ir e vir, deixando apenas retido um conjunto de pequenos fragmentos sobre tantas coisas de que nem me lembro agora. Parecia uma espécie de puzzle, em que a vontade de querer completar uma perfeita gravura, esbarrava na escassez de peças para um encaixe visível. Não me senti completamente à deriva, mas descalço, cambaleando como que embriagado, sentindo a falta de uma muleta para me apoiar e desejando tão somente um pequeno empurrão para voltar a trilhar o mesmo caminho de sempre e que afinal, parece ser inevitavelmente o meu trajecto em vida.
Talvez fosse a preocupação em voltar rapidamente que me tivesse prejudicado em demasia, mas sendo apenas uma postura, uma forma de estar, de absorver, de assimilar e no fundo, explorar ao máximo cada um dos cinco sentidos, quase exponenciando um sexto, fez com que aos poucos sentisse a falta do meu outro eu, da minha outrora e do meu outro ser lá atrás.
Não me senti obrigado ao que quer que fosse, mas da mesma forma que lentamente fui desligando, senti novamente o mesmo feixe de luz a irradiar-me sobre o que deveria voltar a fazer. Não me refiro apenas à escrita, até porque pouco mais é do que uma sincera e sentida expressão do meu íntimo, mas sim a um conjunto de propriedades físicas e mentais, que me fizeram estar perante a vida de uma outra forma, revestindo e compondo a minha personalidade de uma maneira bem diferente daquela a que pareço estar habituado. Não creio que tenha mudado, nem me senti obrigado ou condicionado por nada, mas poderei sempre dizer que o maior factor de mudança, terei sido e sempre serei eu mesmo. É estranho quando algo do género acontece e não temos algo de palpável que o justifique. É ainda mais estranho quando após estas pausas regressamos ao que realmente somos e damos por nós a tentar entender porque tudo terá sido assim... Sem factores, apenas nós próprios! Boa semana...

segunda-feira, novembro 19, 2007

Tempos!

Gosto de viver memórias, reinventar o passado, alcançar sapientemente o futuro...
Será tão somente o sábio caminho de conseguir saber envelhecer, tactear tempos, saborear sensações, viver experiências. Estranho viver este, que me faz parar e usar todos os sentidos que a vida física me deu, alcançando o ponto de equilíbrio entre o tempo e a breve passagem por um trilho desconhecido, curto embora tremendamente grandioso, sinuoso e bastante complexo.
Páro nos mesmos locais de sempre, adorando sentir a forma como se mantém intactos, inalterados e plenamente coerentes com o passar do tempo. Também envelheceram, é certo, mas acompanharam-me num trajecto paralelo, gastando-se na sua concreta medida e sem grandes alterações dignas de registo. Gosto de frequentar as mesmas ruas de criança, as mesmas praias, os mesmos campos, as mesmas formas de se situarem diante de mim e como é bom ver tudo isso com o passar do tempo. Chego a sentir orgulho por uma paisagem natural que pouco se modificou, fitando-a com carinho e simpatia com um sorriso rasgado de menino feliz. Páro por instantes, imaginando o Sol ali sentido outrora, a chuva que amparei nesses tempos, os pássaros já passados e então sim, ergo as mãos, reparo na passagem de tudo isso e vejo-me reflectido nesses mesmo horizontes. Que estranho é sentir que o mesmo Sol parece diferente, que a aragem mudou, que as mesmas pedras parecem mais gastas e que as águas não são as mesmas, ainda que por ali continuem a passar... Volto a tocar-me, acreditando que mesmo parecendo tudo na mesma, tudo também se altera e se modifica. Não sei se sinto saudade daquele clima, daquela ambiência naquele tempo, mas não deixo de viver ou sentir uma estranha sensação de deja-vu, ainda que alterada pelo próprio tempo. Basta-me contudo olhar para mim, para a forma como cresci, como me tornei mais maduro, como vejo a pele enrugar, como sinto o cabelo cair, como me sinto a envelhecer...
É bom estar ali, dizer que ali era criança, ali me senti adolescente, ali me tornei homem e ali deixarei de estar quando morrer. É como montar um mesmo puzzle durante anos, sabendo que apesar da mesma imagem, sentimos sempre algo de novo em cada peça.
Que maravilhosa sensação...

sexta-feira, novembro 09, 2007

Fogo interior!

Acordado e sozinho na minha cama, oiço as vozes do coração que instantaneamente me surpreendem pelo que dizem e me fazem pensar. Na escuridão do meu quarto, sinto um querer e uma vontade em libertar estas vozes pelo meu ego, ainda que escondidas pelo peso das palavras, das frases e dos ideias que possam conter. Parece doloroso soltar-me perante isto, sendo que a maior voz acaba por me pertencer e ter a capacidade de decidir sobre o afogamento ou o grito do meu interior. Deixamos coisas soltas, sozinhas e despidas por aí, mantendo o desejo de nunca as encontrar, embora as usemos vezes sem conta como forma de camuflar feridas, cicatrizes e tudo aquilo que ao longo do tempo nos marca e nos molda a cada segundo. Não me sinto o último, muito menos o primeiro de uma lista que corre sobre arame farpado e se deixa ferir pela passagem de um caminho exíguo, estreito e complexo. Quebram-se obstáculos numa brutalidade arrepiante, deixando que entre uma luz intensa, passível de nos ferir o olhar e quase nos cegar. Estranha contenda num mar de dúvidas, onde as vagas nos esmagam e sufocam, mas limpam de um certo prurido e devassidão. É tão somente um final que tem de prosseguir o seu rumo, engolindo as mesmas vozes que aqui dentro se tentam libertar. Não me sinto apenas eu...

sexta-feira, setembro 28, 2007

Fragmentos!
A distância corrói, aniquila e destrói qualquer ser humano, cuja vontade de regressar se torna o maior dos objectivos e permite que a mesma ansiedade que tanto o prejudica, o sufoque, o aperte e quase o mate... A saudade de aqui voltar era imensa, o desejo igualmente forte, mas quando as ideias, os pensamentos e até mesmo certos objectivos se tornam primordiais perante as imposições da vida, obviamente que tudo se esquece, tudo fica para trás e muita coisa parece deixar de fazer sentido. Vivi novas experiências, algumas menos boas, outras nem tanto, mas desta feita e não conseguindo novamente salientar a minha assiduidade, espero satisfazer o meu principal intento, que será sempre e sem dúvida, o de dar azo à minha mente, expôr o meu coração e abrir-me perante as incidências de um ser que palmilha um trajecto ao longo da vida...
Levanto-me cedo, muito cedo...
Caminho por entre chalés, belas moradias, rua abaixo, sentindo pequenos raios de um calor, cujo Sol meio envergonhado, me faz questão de oferecer. Desço em direcção à baía, ao encontro com o mar onde os barcos abandonados e ao sabor da ondulação, denunciam um ambiente de saudade, se solidão e de muita paz. Mais ao lado e em terra, a fachada da igreja mostra-me o dom da vida pelo baptismo, a alegria pelo casamento e a despedida pela morte que em cada um desses dias a compõe e preenche. Retiro-lhe o olhar e deambulando pelo tempo, reparo numa pequena azinhaga de pedra, onde pareço ver um homem velho com uma pequena mala de pele, castanha e gasta pelo uso... Parece conter um segredo, talvez fale sobre o amor, sobre conquistas, sobre descobertas, quiçá sobre uma revolução, onde uma pequena criança, fecha a boca das armas com um pequeno cravo vermelho. Talvez seja tarde, pareça noite pelo silêncio que me envolve e olhando novamente para o lugar de culto, alimento a minha fé, imagino a senhora que ouve a minha prece, que sente a minha terra, que segura a minha alma tantas vezes partida, tantas vezes desfeita...
Sinto-me libertar, quase levantando-me de uma queda em que a luz, o olhar divino e sagrado me parecem soar a fantasia, a sonho, a algo que só a minha cabeça imagina e alimenta. As guerras que sempre nos acompanharam, parecem não estar mais aqui... Tudo parece ter sido esquecido, resumido a pó, ficando resquícios levemente pincelados de choro, de vozes sofridas, de corações destruídos, de sangue derramado, de veias abertas... O tempo tudo compõe, mas nada esquece!
A saudade vem a nós e por vezes atraiçoa! O desejo de sentir aqueles olhares distantes, aquelas mãos gretadas, aqueles respirares de outrora, de outro Sol, de outras madrugadas, não conseguem agora unir-se na minha pele. Outros tempos, em que o mundo era outro, as vozes, os passos e até mesmo as formas de paz e de guerra, eram sentidas além da nossa forma actual de sentir. Outras leis, outros fundamentos que aqui procurei entender e não consegui alcançar...

terça-feira, julho 31, 2007

Ressurgimentos...

Literalmente volta-se à vida, ergue-se do nada, humana-se com a força final de uma energia parcialmente morta. Ressurge-se, reaparece-se, renova-se e reencarna-se num poder sectáriamente destruído. O misto de convalescença, fraqueza e resistência, confundem-se num todo...
Talvez regresse, quiçá de um modo menos denso, mais absorvido, transpirado e respirado até à exaustão... Puxem-me!

segunda-feira, junho 18, 2007

A imortalidade do ser e do sentir!

Imortalidade, tão somente um viver a vida eterna, um estranho sentimento de poder, de vida e combate em que a razão perde a lógica pelo desespero de uma entrega impossível de atingir. Vivo sem saber onde, confinado a espaços onde o lugar de estranheza se transforma em abismo, onde me prendo, onde me agarro e onde me entendo pela plenitude de uma vida eternamente infindável. Sustenho-me, debruço-me, quase me deixo engolir e mesmo vencido pelo cansaço, jamais perderei o ser por um sentir demasiado sentido… Complexo?
A própria génese da imortalidade comunga-me, toma-me o físico, consome-me o mental e absorvendo-me num todo, permite-me dissociar ambos os estados, num perfeito estado de equilíbrio e perfeição. Tenho-a sem procurar, além da vida, depois da morte…
Mesmo sem a ver, sem a sentir, sem a encontrar ou julgar e apesar de sempre a viver de perto, dentro de mim, em sangue e na alma, é o espírito da mesma que me corrói, me desgasta e permite este estado de sofreguidão total e intensa.
Para que a quero afinal? Para quem passa a meu lado poder senti-la com a mesma experiência, com o mesmo sorriso e queixume e simplesmente fazer de mim um estranho modelo a não repetir? Não sei… Cansa-me embora a ame. Quem passa, marca no fluxo o passado, o presente e o futuro. Quando passam, tudo foi, nada é, algo será… Sou e sinto-a bem cá dentro. Para todo o sempre!


PS: Dedicado a uma pessoa muito especial que me desafiou a um 101º post. Um grande beijinho.

segunda-feira, junho 11, 2007

Términus...
Eis-me chegado ao fim do meu percurso...
Amei de coração um trajecto iniciado há alguns anos, pleno de sentimento, repleto de coração e preenchido com uma presença mais ou menos assídua, sempre com o desejo e a vontade de aqui voltar, de aqui parar um pouco o tempo e de aqui me permitir encontrar com as dúvidas, com os lamentos e com tudo aquilo que desejava alcançar.
Aqui sorri, permiti que a pulsação acelerasse ao sabor da mente, despertasse sentidos, suando e transparecendo tudo o que sou, num simples mas intencional conjunto de palavras e caracteres. Sorri de satisfação quando senti cada frase em harmonia com o meu sentir, chorei quando a necessidade de dizer algo mais bloqueava, limitando a minha súplica e o simples desabafo...
A inspiração, essa, vertia em cada recanto da minha vida, encontrando-a em pensamentos, em experiências, em melodias, em ambientes perfeitos para a relatar, tomando notas, usando mnemónicas e cábulas mentais para mais tarde debitar em simples textos e palavras, tudo o que me permitia sentir, saborear e viver...
A pele de actor solitário, usando apenas a escrita como tela de representação, vestia-a a todo o momento, encarnando o espírito dos dizeres, das ideias, quase como que viajando sem rumo, sem trajecto, sem nexo, mas pleno de realismo e convicção. Saudade? Talvez terei...
Quiçá, possa voltar um dia, quando abraçar novos projectos, novas ideias e com tudo o que isso envolve, poder sentir a necessidade de me expandir, de voltar a querer gritar bem alto o que me mova, o que pense, o que deseje sorrir e chorar, tentando encontrar novas respostas para as constantes e contagiantes dúvidas que me sufoquem e apertem...
No fundo, a maior felicidade além dos simpáticos comentários, pedidos pessoais e agradecimentos, foi mesmo ter dado o passo para algo que de tão simples, terá sido um complexo mas apetecível desafio. Fi-lo por mim, apenas para mim, tendo a saborosa gratificação das críticas construtivas que ao longo do tempo, todos foram deixando. Aprendi que a morte e o epílogo das coisas, não será necessariamente um fim. Acredito que a partir daí, o começo de algo será mais forte, mais intenso e sem dúvida bastante mais proveitoso. Apesar das lágrimas que teimosamente tentam verter neste momento dos meus olhos, peço-vos que exista sempre em vós, o mesmo amor, paixão e sinceridade que aqui sempre derramei... Obrigado por tudo.
Até sempre!
Retalhos!

Os estandartes que voam nas praças, acompanham uma multidão apressada de correrias, de pedintes cujos olhares tristes suplicam por esmola, de gente que tomba pela doença, de rezas suplicando pelo objectivo, de pessoas que lutam pela fama, poder, riqueza, de despreocupados e entregues à preguiça, vencidos pela televisão, pelo entretenimento, pela acomodação...
A fome, a mesma e a única que não se cansa de pedir um alimento tantas vezes duro e sem apetite, lado a lado com o gesto agressivo, com as mulheres empoleiradas nas janelas, cochichando e servindo enredos difíceis de compreender, com o crime, desde o simples roubo ao mais complexo esquema de violação de normas morais, passando pelo artistas de rua, tantas vezes sem graça, tantas vezes tão correctos e perfeitos...
A espera pela prostituta numa esquina gasta e usada pelo tempo, o anúncio descolado numa parede velha e sumida, o trânsito sem nexo e coerência, o sonho vencido pelo pesadelo, a confiança derrubada pelo medo e incerteza, o triste retrato da morte estampado num jornal velho, pisado pela alegria de quem ganhou a fortuna e sorri de uma felicidade desmedida...
Os bêbados e drogados, tantas vezes entregues ao vício de algo que não lhes preenche o buraco da alma, mascarando-o por breves instantes de algo superior e perfeito, surreal e absurdo.
O espírito de tudo isto, unido numa pequena manta que nos cobre, nos veste e ainda assim nos deixa gelados e completamente vulneráveis a tudo o que nos rodeia, faz do mundo pequenos retalhos da vida, de um qualquer lugar em que este espaço imundo me deixa cego, surdo e mudo, não porque não queira ver, ouvir ou escutar, mas porque ainda assim, me engole e é capaz de me tentar mudar...

terça-feira, maio 22, 2007

Dançando!

Dança comigo, abraçando-me e colando o teu corpo no meu, despertando a sensualidade e o instinto de ambos, permitindo que sejamos um só, um no outro e onde a harmonia dá lugar ao entendimento...
Cada porção do teu corpo aninha-se em mim, tocando-me e entrelaçando-se como puro magnetismo e embora seja apenas algo físico, a envolvência que de nós se apodera, faz-nos transportar para lá do simples ritmo que nos move. Sempre que dançamos, deslizamos como água num curso fluente, directo, organizado e sempre com o desejo de um desaguar perfeito, estrondoso e arrebatador. Fico perplexo, possuído e envolto por uma aura divina quando te sinto por mim, com o desenrolar do teu saber, da tua agilidade e mestria... Acaba por ser um sentido, um rumo, um trajecto, um consumir e um esbanjar de energia, um cansaço apetecível de prazer e objectivo. Sentimos demais, queremos mais, vivendo para além do possível, desafiando a física, ousando os limites de um corpo já por si trabalhado em prol de um sorriso, de uma satisfação e de um bem estar único e inexplicável.
Para todo o sempre, seremos eternos enamorados de uma paixão onde o verdadeiro amor não está em nós, mas sim no que permitimos sentir por entre nós. Mais do que uma coreografia de movimentos aliados a ritmos de melodia, está sem dúvida a paixão que por ela temos...
Abraça-me! Dança comigo!

sexta-feira, maio 18, 2007

Pavios!

Na tarde mais distante de um dia tardio, esperava que a vida nascesse, amasse e findasse, vivendo de um sono calmo, secreto e tranquilo, espreguiçando a saudade e os pesadelos que morriam de difícil verdade e complexo sentido...
O olhar enternecido pelo lamento, atrasado no beijo de um suspiro retardante, sugava-me o foco de uma luz fraca de aparência e palpitar cambaleante, desunido no ardor do momento e aguardando por um tempo que por pouco vestia, unido na comunhão de um prazo, que lentamenta sufoca e aos poucos, contagia...
Mantendo no luar o sol de um calor iluminado, absorvo a alquimia desta estranha magia, casando as estrelas com os astros em completa harmonia, vivendo de feixes de verdade, tal qual uma vida, abandonando o pó e as impurezas gastas, por longos ventos de investida. Casando noite com o dia, na mais bela aura do sentimento, adormecendo silêncios nocturnos, com soturnos momentos, vivendo cruzado de aromas e cheiros de um ar consumido, nascido e usado por força de um sopro corroído...
Sinto os instantes, ardendo no fogo que a madeira consome, virado do avesso, como um mundo azíago de miséria e fome, doendo de um ardor perfurante e gasto pela sorte, onde a noite se veste, escurece e aos poucos se absorve...
Que a tarde distante do meu dia tardio, alimente a manhã da minha noite e a noite do meu dia, consumindo a madrugada tal como um pavio, onde me acabo, termino e facilmente me findo...

terça-feira, maio 08, 2007

Retiros!

Gosto do teu espaço, do teu aprumo, do teu recanto...
Daqui, observam-se os telhados gastos pelo tempo, as imagens escurecidas por uma densa manhã de nevoeiro e uma singela neblina que nos engole e deprime. Sabe bem estar sentado neste soalho de tábuas largas, ter diante de nós uma cidade que lá em baixo se move, se muta e aos poucos consome o tempo de mais um dia em que a realidade pouco ou nada se altera. Colo a minha testa no vidro da enorme janela de madeira que me separa das ruas, das vielas e dos imensos recantos desta paisagem urbana. Ao longe, o rio parece sereno, tranquilo e estranhamente acomodado. Encosto a nuca na parede, chegando para mim os joelhos, abraçando-os e deixando-me ficar encolhido numa posição extremamente agradável. Olho para o tecto da casa, imaginando o que cada pedaço de pedra, de areia, de cal e de madeira, me poderiam dizer caso falassem. Os séculos que passaram, deixaram as marcas de um tempo infindável e a vontade de libertar tudo aquilo que por aqui viveram. O cheiro adocicado e lúgubre das casas antigas agrada-me, conforta-me e confere-me uma enorme sensação de segurança. Apesar da sua debilidade natural, as imponentes fachadas dos edifícios antigos são a principal razão para me sentir seguro neles, como que amedrontando a física através do seu aspecto resistente. Gosto do sossego que aqui encontro, da paz destas divisões e até mesmo da escadaria em madeira que treme e soluça a cada passo. Encontro a felicidade quando aqui venho, quando tenho as chaves deste minúsculo retiro e me permito fazer dele, o meu lugar de meditação, de bem estar e prazer. Sabe bem ver que nem tudo é mudança, que nem tudo é remodelado ou destruído e que à semelhança de um qualquer objecto dos nossos avós, também aqui se consegue estar e usufruir deste espaço com o mesmo cuidado com que estimaríamos a mais bela preciosidade. Sabe bem esta nostalgia, este sentir, esta saudade que apenas nos recorda a infância, embora tudo permaneça intacto e da mesma forma. Aliás, a única alteração terá sido nós mesmos... A beleza intrínseca da paisagem interior e exterior, nem se moldou sequer aos tempos modernos, mantendo por isso a mesma talha artesanal, os mesmos traços de antiguidade e a mesma postura ao nível do horizonte. Fecho os olhos... Procuro os sons perfeitos, os cheiros equilibrados para tudo isto, os sabores que por aqui preencheram as línguas sequiosas e que tantas vezes lhes terá servido de alimento... Aqui viveram pessoas, aqui se criaram crianças, aqui muitos se terão tornado homens e mulheres, e até aqui, muitos terão partido para o encontro divino com a vida eterna. Será talvez e tão somente um singelo edifício, um simples prédio antigo da minha cidade, mas mais importante que isso, é o encontro que aqui vou mantendo e a bonita sensação de, por breves instantes, pensar que consegui parar o tempo e aqui lhe falar.

sexta-feira, abril 13, 2007

Paixão!

A doçura estampada no teu rosto, na ternura dos teus olhos, por onde me oculto do choro, por onde me fazes sorrir e mergulhas, transforma-me por completo e deixa-me rendido ao magnetismo da simplicidade do teu existir, vivendo em mim como a mais bela recordação de um tempo, de uma dádiva, de um verdadeiro sentimento…
Abençoado por este soberbo dom, agradeço o que recebo, o que dou e com o que vibro na singela presença de algo tão especial. Talvez o divino te tenha enviado, talvez um dia me tire, talvez tudo não passe de um sorriso angelical por uma troca amarga e azíaga, de um tempo que já findou, que marcou e se fez notar por uma curta mas vincada passagem. Que aprendizagem foi esta, ou que sinais terei eu descoberto com pequenos laivos de dor, pincelados de sentimentos, suavemente salpicados com cores esbatidas e sem nexo, transparentes ou mesmo distorcidos? Seria dor, mágoa ou simplesmente a nova sensação de um sentir que jamais pensaria voltar a ter sobre alguém?
Parece-me que a descubro novamente, com uma chegada curta e directa. Torna-se semelhante a algo quando sentes que existe e não sabes como te alcança, como o amante de quem sentes falta se apodera de ti, te embala e adormece contigo, aconchegando-te nuns braços doces, fortes e quentes nas noites frias de solidão... Quando a tocas e permites o mesmo, sabes e consegues segurá-la de um modo tranquilo, ameno, feliz, sentindo agora o conforto interior como um beijo sincero, como um abraço apertado, como um sorriso de esperança que tantas vezes julgaste perdido na imensidão do olhar. A tristeza que se viveu, ninguém a entendeu, talvez ninguém se tenha sentido tentado a fazê-lo, sequer…
Bastou um sorriso, ainda que timidamente parecesse frio e ainda que o suspiro tivesse sido nervoso e atabalhoado. Bastou apenas isso, para aprender na espera do tempo, que tudo recomeça, que tudo se inicia, que nada parece feito…
Quando se descobre, direi que finalmente existe! Chega entranhando-se de um modo lento, sem palavras ou melodias, transformando-se na mais bela das memórias, tornando-se parte de nós, alimentando-se para a eternidade, fazendo-se uso dela em cada etapa ou em cada pequena acção que tão simplesmente se pense realizar...

quinta-feira, abril 05, 2007

Explosão de cor!

Ainda embebido pela escuridão do sono, abro vagarosamente a cortina dos meus olhos, permitindo que o brilho, os contrastes, a cor e a nitidez formulem imagens, dêem forma ao que atinjo e me deixem seduzir pelo alcance da visão.
Ao longe, os primeiros feixes tornam-se evidentes, perceptíveis, contagiantes... A busca e o desejo de alcançar para lá do olho nú, acentuam-se, adensam-se e formulam em mim, a secreta esperança de um horizonte mais nítido, límpido, cristalino e livre de interferências. O constante e frenético processo de dilatação das pupilas, contagia a minha mente, mergulhando-a num vasto mar de cor, de forma, de texturas e de materiais, mantendo-me embriagado e sedento pela envolvência de um ambiente cada vez mais próximo. Os espectros visuais confundem-se, misturando as simples tonalidades do círculo cromático, com a a complexidade da área suavemente pixelizada e colorida.
Tudo ganha forma, tudo se veste em tons de agradável absorção e entendimento. Longe ou perto, a focagem completa-se com um fácil automatismo do meu obturador visual, com a irrigação de um campo suficientemente abrangente e sempre através de uma perfeita luminosidade, para que nada se torne demasiado denso ou invisível. As explosões de cor, sucedem-se, multiplicam-se, realizando-se num breve fechar de pálpebras, num pequeno e singelo pestanejar sem que nada se perca, sem que nada se abandone ao acaso, transformando cada pequeno slide, num película gigantesca e contínua.
A suavidade do que vejo contagia-me, não deixando que o ruído visual, perturbe as imagens que em mim se vislumbram. A imensidão do que alcanço, é tentadoramente bela!

segunda-feira, abril 02, 2007

Loucura!

Ambientes medonhos, soturnos e lúgubres, sombras em becos, vozes que ecoam actos despidos, excessivamente labirínticos em torno de um intenso mal-estar...
Estado de demência e loucura, condição da mente humana onde a sinto solta, bem viva e sempre pronta a atacar a paz generalizada de mentes desprotegidas. Adoro a demência bajulada com os seus cativantes comportamentos, motivando a curiosidade, espicaçando opiniões, absorvendo os mundos onde por momentos, a lógica natural é posta em causa e se questiona onde começa e termina o estado da insanidade.
Absorvo-te em mim, esperando que estranhes e depois te entranhes, com toda a estupidez das barreiras sociais, do senso comum, da ignorância doutrém, conseguindo desta forma, escoar o produto do desassossego da minha mente.
Actos impensáveis, situações surreais com atitudes submersas, ambíguas, incoerentes, cujo sumo dessas asserções, reside na mecânica e nas mensagens ocultas ou inerentes a uma temática malévola, descabida, perturbante, de uma constante inconstância que perdura e teima em não abandonar a mente inquieta. Alinham-se imagens perturbadoras, subvertendo pensamentos e sentimentos...
Mesmo embrenhado pela loucura, nada mais sou que um escoador de sensações e de momentos, usando o grito e o anormal comportamento para em pleno, a libertar!

terça-feira, março 20, 2007

Mensagens!

A imensidão azul diante de mim, cobre-se de negro com o cair da noite, não deixando qualquer recado, sendo impossível decifrar na escuridão do teu olhar… O clima sombrio, a brisa com a sua sonoridade aguda e o vento gélido que sopra, não assustam porém, a determinação dos meus passos, nem do trajecto a percorrer. Ao longe, o que a natureza escreve e passa despercebido, foge-te do olhar sem que notes, retirando-se e sumindo sem que te dês ao luxo de o visitar. Escrevendo na noite, escrevendo numa folha escura, de letra desordenada e assustadora, com tinta negra e sumida, o que não importa, não se decifra. Ditando para o luar ou talvez para o mar, mas sem luz radiante, pode ser que me consiga libertar da garrafa neste oceano… Afinal não és navegante de primeira viagem como eu e pode ser que tenhas curiosidade pelas palavras, pelos sentires e pelos dizeres. Há muito que sou a mensagem no interior deste vidro transparente, tantas vezes opaco, tantas vezes sombrio e caso possas encontrá-la, tenta, mesmo no meio da escuridão, ler o conteúdo do papel turvo e apagado. Já é alguma coisa, seria valioso! Aí sim, estarás distante do mar, perto de amar…

segunda-feira, março 19, 2007

Sonho!

Parece tarde...
Sinto o avançar da noite de um modo rápido, violento e directo. O sono parece ter-se extinguido por hoje e diante do sossego e da tranquilidade deste tempo que corre, apodero-me de um copo cheio de ilusões, em busca de uma tentativa vã de força e de descanso. Sentado nesta divisão, oiço passos na porta em frente, cuidadosos, periclitantes, femininos...
Apetece-me observar, saber quem entra, quem partilha comigo este momento tardio de vazio e de espera demente. Do outro lado, reparo na dificuldade em fazer rodar uma simples fechadura, no desespero com que o faz, no tempo que se esgota e enerva cada vez mais... Sorrio maliciosamente, comparando a minha noite calma e tranquila, em contraste com o final de dia conturbado de um vizinho noctívago. Os passos, agora mais fortes e descompassados, vêm ao meu encontro, terminando num bater forte e seco na madeira da minha entrada. O meu ritmo cardíaco acelera, surgindo em mim uma estranha indecisão sobre a atitude a tomar. Consumo segundos, alimentando o desespero da mulher que paira do outro lado. Decido-me a abrir, meio estremunhado pela escuridão da noite, convidando-a a entrar.
Os nervos afectam-na, consomem-na, não permitindo que consiga articular de um modo tranquilo tudo o que a apoquenta. Aconselho-a a ficar, a deixar esperar pela manhã e fazer com que se acalme, encontrando no meu retiro algum sossego e repouso. Acede-me assustada, seguindo-me de encontro à divisão onde a deixarei pernoitar. Volto ao meu quarto sorrindo, novamente com malícia, mas sem intento de algo mais, adormecendo tranquilamente...
Findo a noite e já pelo novo dia adentro, acordo consumido por um sol deliciosamente convidativo. Reparo no lado contrário da minha cama onde jazem peças de roupa interior e um "obrigado" suavemente perfumado. De nada me lembro, de nada sei ou senti...
Sinto-me confuso, perplexo e desconcertado, culpando simplesmente o copo cheio de ilusões. Apenas me parece que tenha sonhado! Nada mais...

Pesadelo!

A visão diante dos meus olhos, encurrala-se e afunila-se de uma forma esmagadora, caída e adormecida de verdade, subindo a cada pequeno passo e custando apenas e tão somente, o elevado preço da minha indigente vida. Escuto-os num aproximar ruidoso que me arrepia o mais ínfimo osso, correndo lado a lado com o tempo, descendo as estranhas colinas do logro e cercando-me sem sentir… O pesadelo sabe-me a morte, a sangue, a um desmonoramento patente e viscoso, lento, exíguo, exigindo-me um acordar repentino, frenético e real. Talvez com o apagar das almas, com o vigoroso despertar da morte e com a extinção de um espírito vivo, tudo se afunde, se escoe no inferno em que me insiro e desapareça com o que sou, resumindo-me apenas a um singelo e inebrioso pó. Tentei durante a noite, não encontrando vestígios de ser alcançado… É como se tivessem apenas desaparecido, sabendo de antemão a distância a que se encontram, sentindo-os aproximarem-se arrepiando-me, esgotando o tempo que ambos dispomos, vindo ao meu encontro e dilacerando-me de um modo nú, primitivo e imaginário. Resistirei debatendo-me, lutando e não permitindo que me entregue. Comecemos a matança lado a lado, por nós, por ideais diferentes, por razões opostas e imperceptíveis em relação ao outro. O pesadelo mantém-me estranhamente acordado, vivo e assustado, lutando a minha mente neste estado opressivo e de aflição, querendo que me acorde, me desperte e me transporte à realidade concreta.
Finalmente, o meu sol vai aparecendo, levando consigo os gritos dos que me atormentaram, dos que pereceram e extinguindo todos os outros que ainda atordoados, permaneceram de pé. É este o final do que ambos começamos? Lembrar-nos-emos do que ambos teremos feito de errado? Direi que não! Foi tão somente um sonho mau, em que a irrealidade se apoderou de mim num estado demasiado possessivo e de estranha utopia ou ilusão… Detesto pesadelos!

quarta-feira, março 14, 2007

Toque!

Suave sensação de prazer, de afecto, de entrega...
O odor corporal, remete-me para o limiar do instinto, permitindo que o toque se complete na mais primária absorção do teu ser. A pele, o instrumento perfeito para um frenético esboçar de sentimentos, de entrega, de movimentos ondulantes num cadenciado vaivém de prazer, de romantismo, de paixão doentia, de expressões complexas, de irrealidade...
O culto do corpo, descreve-se por si só num ondular disforme, numa procura e busca desenfreadas pelo conforto, pelo consolo e comodidade, tentando uma inserção perfeita numa básica e correcta absorção do outro. O apetite voraz que nos habita e consome, deixa-nos entregues a uma explosão de várias tonalidades, a transformações químicas tão rápidas quanto instintivas, a um sem número de abstracções e complexo alheamento do que nos rodeia.
Derreto-me num revirar de olhos, num suor quente e repentino, num estranho e doentio pulsar de sensações... Quero-te!

segunda-feira, março 12, 2007

Impurezas!
Tempo, onde o mar me beija com uma espuma permanente, me seduz nos acentuados tons de azul e me deixa rendido ao poder, ao prazer e ao magnífico odor a imensidão e grandeza...
A luz espelhada atinge-me no núcleo do meu ser, prostrando-me diante de si, iluminado, abençoado, quase sentindo uma enérgica reacção de força, de devoção e crença, tão somente pelo acto de me deixar naufragar e engolir por este encanto.
O sopro diante de mim, convida-me a desejá-lo, o ruído cavernoso e barulhento das enormes vagas que rebentam, tenta-me a escutá-lo cada vez mais perto.
Mais do que o descrever fisicamente, abunda-me a necessidade de o sentir, de permitir que seja apenas um de muitos factores naturais a influenciar o meu estado de espírito e o lento reagir a processos diários de uma vida tantas vezes complexa e inexplicável.
Consumo neste momento, o antídoto certo para um dos meus vírus...
Acabo de mergulhar, purificando-me em águas viajantes, na esperança de me libertar da sujidade que me inquieta...

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Códigos!

Fórmula do meu encanto, encriptada pelo desconhecido, decifrada apenas pelo dom da vida...
Parece simples o código genético e a divisão celular de uma junção estranhamente obtida. Contudo, a complexidade do ser daí advindo, remete-nos para múltiplas questões, dúvidas e incertezas.
Que passagem é esta afinal, que se compõe por um trajecto de início e fim de curso, que nos molda interior e exteriormente, nos modifica e transforma, nos usa e abusa sem que nada consentamos e no fim de tudo, mais não é que uma linha recta cheia de obstáculos?
A liberdade que julgamos ter em cada escolha, opção e desenlace, é fictícia. Seremos sempre condicionados por factores reais, sociais, fisiológicos, mentais, físicos... O prazer, por exemplo, não passa de uns meros segundos de satisfação, dando lugar a pequenas depressões quando o deixamos de sentir. A vontade, assenta em critérios de força, de luta, de conquista e de múltiplas vertentes de coragem para transpor metas...
Em cada canto e aresta pairam soluções, ainda que se assemelhem com muros intransponíveis em que a única decisão pareça ser um voltar atrás.
Algures, no mais recôndito poço da nossa mente, estarão as verdadeiras equações, contendo a solução adequada para cada etapa. Ainda que não se prove fisicamente cada dúvida, as respostas encontrar-se-ão sempre lá... Usem-se!

Metas!

...e ao centésimo post, findarei o meu percurso.
Não que me sinta cansado de escrever, parco de imaginação ou fluidez de sentimentos, mas porque entendo que por vezes é preciso saber onde acabamos, onde iniciamos novos projectos e essencialmente, termos a plena consciência do que somos, de tudo o que fazemos e tenhamos a certeza dos timings correctos para uma saída perfeita.
Foi um prazer imenso, um explorar sensações, uma forma corajosa e perspicaz de chorar por dentro, de rasgar a pele que me veste, de recolher energias, libertar forças, ajustar tempos, aliviar sentimentos...
No final de contas e após todo este tempo, tudo ficou por dizer. Parece que tudo foi vago, imperceptível, complexo... Mais do que querer sinónimos pessoais, comentários deixados ou mesmo sensações, o meu instinto foi sempre de mero desabafo, de visão alargada, de compreensão interior e do enorme gozo que toda essa ínfima pesquisa me proporcionou. Apesar dos elogios deixados, dos convites para me dedicar a uma escrita profissional, a minha postura manteve-se intacta. O objectivo, único e muito pessoal, foi conseguido na plenitude e sinto-me tremendamente realizado por isso. Nesta dezena de textos que ainda me faltam, continuarei a usar da minha palavra o melhor que sei, o melhor que vejo e o melhor que sinto... Ainda que tenha usado disfarces camaleónicos para melhor encarnar cada etapa, em todas elas houve sentimento, entusiasmo, sensibilidade, emoção e afecto.
Que haja tão somente amor e paixão em cada pequeno passo. A tudo se aplica!
Sossego!

Chove lá fora...
As gotas colam-se na janela, aguardando outras, esperando fundirem-se e acompanharem a gravidade que não deixa de as arrastar.
Cá dentro, a tranquilidade sossega-me. O silêncio imperioso desta divisão acalma-me, irradia paz e fortalece a minha mente. Fecho os olhos, medito parecendo ouvir uma linguagem zen, uma musicalidade divina, relaxante, tranquila, apaziguadora...
Visualizo imagens sem nexo, disformes, simétricas, semelhantes a uma visão caleidoscópica. As cores fundem-se, transformam-se através de ligeiros salpicos de luz e depressa passam para algo diferente, como se de uma breve mudança de slide se tratasse. Permaneço neste estado sem a noção de tempo ou espaço... Quero saber onde desaguo e de que forma o faço. Termino esta investida intemporal na escuridão! Encontro-me agora num buraco negro, sem contornos, sem obstáculos, sem luz... A música e o ambiente volatilizaram-se. Aos poucos, vou abrindo os olhos ainda embriagados pelos raios de sol que agora me invadem o corpo... Que recondita viagem acabei de fazer.

domingo, fevereiro 18, 2007

Paz isolada!
A escuridão protege-me, as sombras acalmam-me...
Liberto apenas o rosto num fraco feixe de luz, permitindo que a vida ganhe contornos de trevas.
Doentio? O suficiente para me fazer implodir num distanciamento entre o ego e a carne. O necessário para me movimentar no mais infímo interior... O lugar perfeito!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Regressão!

Que bom seria, poder viajar no tempo e encontrar-me num qualquer período da minha vida, poder visitar-me em que altura me apetecesse e fazer uma perfeita regressão através do espaço, viajando e indo em busca de algo que por vezes tanta saudade me deixa...
Sabe bem recordar-me como criança, do cheiro dos lápis na primeira escola, dos dedos sujos e doridos pelas primeiras letras... Das tardes de brincadeira, em que no largo onde morava, empurrava caricas pelos passeios, jogava à bola com sapatos rotos e gastos pelos muitos pontapés que dava em tudo... Saudade também dos três grandiosos choupos que davam sombra todo o verão, em que se ouviam ruidosamente o bater dos ramos e folhas movimentadas pelo vento. Dos cães vadios, quase mascotes e companheiros de um bando de miudagem feliz e irrequieta... Da música que saía de uma janela com os sons da época, colocada por um vizinho um pouco mais velho e dono de uma infindável colecção de LP's... Grata recordação também da velha mercearia onde nos abastecíamos de gelados e odiávamos o dono por sempre nos tentar enganar nas saudosas moeditas de escudos... Do fantástico cubo mágico que tanto adorava, embora nunca o tenha conseguido ordenar sem batotice... Das correrias, das molhas que a chuva me dava, dos transportes velhos que tantas vezes usei, da vida difícil, dura e cansativa que tantas vezes me acompanhou... Dos carros que se vendiam na altura e hoje são vistos quase como sucata... Que bom é recordar o primeiro beijo, desmazelado, despreocupado, mas pleno de intenção... O cheiro do primeiro amor, dos amigos, dos colegas, das aventuras... Custa acordar e deparar-me que nada disto existe nem voltará a existir. O encanto e a magia desapareceram! A velha escola é diferente, os choupos foram cortados, as mesmas músicas tocam agora no meu rádio em vez de sairem daquela janela de madeira branca e sempre aberta de par em par...
O resingão da mercearia partiu, os amigos cresceram, tornaram-se adultos e fizeram as suas vidas... Tudo o que existia, desapareceu como feitiço! Choro no real pela saudade, sorrio na recordação quando regresso em pensamento... Soberbo!

sábado, janeiro 27, 2007

Números...

Mil passarás, a dois mil não chegarás...
Foi esta a permissa que desde muito miúdo me habituei a ouvir. Corriam as fantásticos anos 80 e escutar os cépticos, os crentes de antigas profecias e até mesmo os fanáticos do catolicismo, fizeram com que muitas vezes me interrogasse sobre a suposta forma do final do mundo. Cresci com milhentes ideias, alimentadas por gente receosa, inculta e tantas vezes arrastadas por uma moral que surge em debandada e leva tudo o que consegue alcançar. Contudo, o meu medo nunca foi de um términus mais ou menos doloroso, mas sim de uma ansiedade que se apoderasse um pouco de cada mente e a retesse estática, deixando-a ao sabor de qualquer coisa que nunca saberia ao certo o que realmente pudesse ser. Talvez por isso e desde cedo alimentasse a ideia de encontrar o novo milénio fora de um local normal, procurando algo diferente, algo denso, permitindo-me assim, observar atentamente o passar do tempo.
Fi-lo fora do país, sabendo de antemão que o oriente alcançaria um número tantas vezes receado, muito primeiro que eu. Nada de estrondoso ou de muito diferente. Foi apenas uma marca... Marca essa que estou também aqui, prestes a alcançar. Não em anos, mas em número de simpáticas visitas. Nunca foi meu intento publicitar um canto escondido na mente de homem que a espaços se solta, mas sim ter o secreto desejo de vestir uma pele obscura, retratando o mais possível e com a máxima precisão do real.
Um de vós alcançará um número enigmático... Agradeço por isso.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Solos sagrados!

Piso-te a entrada através de uma escadaria densa, polida e tremendamente gasta...
Cada pedra conta um conto, uma passagem, uma história de lendas, de fantasias, de realidades e ficção. A arte mistura o gótico com o sagrado, a escuridão com pequenos laivos de luz, o tenebroso com o obscuro... Amedrontas, mas reconfortas! Em ti peço perdão, orando, crendo na ressureição, na redenção do pecado, na constante busca de uma salvação proeminente e de contornos desconhecidos. Alimentas-me a crença pela paz de espírito, pelo desejo de uma vida objectivada de princípios morais e valores espirituais correctos. Sinto-me bem em ti, ainda que me assustes. Que a alma de cada um, habite num só corpo... Que vá ao teu encontro em cada lugar santo. Na morte, também virei aqui!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Encaixes!

Na aura da vida jaz a sorte, aguarda-se pela morte, enfrenta-se o desconhecido...
Alimenta-se o medo, reforça-se a coragem, desmente-se o sossego, assegura-se a tranquilidade...
A hora tardia em que me carrego e transbordo, faz-me pensar, ousar em agir, raciocinar... O conjunto de frases flui, o pensamento aos poucos, faz por se denegrir.
Em cada momento, uma interrogação, uma inquietude... Tudo faz sentido, nada terá significado.
Assustador, polivalente e ambíguo... Nada é o que parece ser. A razão das tarefas, o objectivo das acções e o concreto das atitudes, desmembra-se entre notáveis vitórias, contrastando com a derrota em prejuízo doutrem. Insano? Não!
Apenas uma visão lata e mais abrangente dos princípios activos de um cosmos mais ou menos perfeito e por explorar em pleno. Tudo se molda, tudo se encaixa... Nada fica retido em igualdades circunstânciais... Na aura da vida, vive-se da sorte, aproxima-se a morte... Ver-nos-emos no desconhecido !
Sangue-vivo!

Sangue do meu sangue, cujo suor por ti se entranha, esbate e dissolve, como que absorvido e desfeito através do pulsar do tempo...
Provo-te quente, saboreio-te em cada papila, degustando e alimentando a sedenta forma de mim, do meu corpo, do meu ser interior...
Diferente e atroz a ferida acidental... Corte profundo, cuja incidência liberta o fluído da vida, soltando ardor e dormência, mas incapaz de magoar por dentro, de deixar marca vincada, ainda que por cicatrizes visíveis, se faça notar.
Sangue do meu sangue, conta-me em que artérias viajas, em que veias te situas, dizendo-me baixinho o real curso do tempo, do infinito e em que circunstâncias te perderás um dia...
Sangue do meu sangue, jorra como lágrimas, alimentando o chão com a pureza camuflada, mostrando à terra o coração que te movimenta, preparando-a para o repouso eterno...
Sangue do meu sangue... vive-me para contar!